quinta-feira, 22 de abril de 2010

QUANDO SER PASTOR É INSUFICIENTE


Paulo se encontrou com Cristo no caminho para Damasco e ali recebeu o seu chamado ministerial. Foi discipulado por Ananias, apresentado aos discípulos por Barnabé, tornando-se o 13º apóstolo. Anunciou o Evangelho na Ásia e na Europa. Fundou Igrejas, pastoreou rebanhos, confrontou pessoas, preparou lideranças, deixou orientações em seus escritos, enfim, foi um ministro aprovado por Deus. Entretanto, Paulo não foi um pastor aprovado por seu rebanho, ao menos o rebanho da Igreja de Corinto.

Ao ler-se a Segunda Epístola de Paulo aos Coríntios tem-se a nítida impressão da rejeição do ministério paulino por parte daquela comunidade. Sua autoridade era veementemente questionada, mesmo tendo sido dada por Deus; sua capacidade era colocada em xeque, mesmo tendo sido discípulo do grande mestre da escola de Hillel, o sábio Gamaliel; sua eloqüência e presença de espírito foram ridicularizadas, mesmo que tenha nos legado passagens entre as mais profundas do Novo Testamento. Ser pastor, portanto, homem chamado por Deus, capacitado pelo Senhor, preparado para toda a boa obra não era suficiente para que alguém liderasse a Igreja da cidade de Corinto.

Isso leva-nos a pensar na realidade de muitas igrejas em nossos dias: cansaram-se de pastores! Querem empresários, “marqueteiros”, mestres da auto-ajuda, entretenedores e showmens. Para algumas igrejas, seus líderes têm que ter sempre uma nova estratégia, mesmo que a que esteja sendo usada esteja dando certo. Como bons comunicadores, têm que alardear para os quatro cantos o que têm feito, pois “a propaganda é a alma do negócio” (aliás, realmente é a alma do negócio!!!). Pastor tem que ser positivo, não podendo confrontar as pessoas, afinal elas já têm a auto-imagem bastante negativa. O Ministro de Culto tem que fazer panacéias e estardalhaços nas mensagens e nos cultos, para que o povo não se canse ou fique desatento. Nada mal, se o estilo parecer com o de Silvio Santos ou Raul Gil! Outros, mais moderninhos, prefeririam mesmo é o estilo Faustão!

Para muitas igrejas, pastor já era!!!! Afinal, não querem alguém se metendo em suas vidas! Profetas? Nunca mais!!!! Não precisam de alguém que denuncie os pecados e mazelas do povo de Deus. Conselheiros? Tudo bem, desde que usem a “sabedoria” de Lair Ribeiro e Augusto Cury e digam somente o que querem ouvir. Líderes? Só se forem esquizofrênicos: têm que ser “democráticos” com a liderança e “firmes” com o restante da igreja. Pregadores? Bem... preferem “palestrantes”: alguém que traga dicas simplistas de como ser um vencedor, sem aprofundar muito para não incomodar, usando muitas metáforas e recursos áudio-visuais, afinal, só assim alguns ouvintes conseguem entender determinadas “verdades”.

É, ser pastor já não é suficiente para ser um Ministro de Deus. O pior é que pastores verdadeiros estão se tornando desnecessários! Nesses tempos de “liquefação moderna” (Zigmund Bauman) e de supremacia mercadológica, a igreja vem se portando de forma ambígua, contraditória, tentando conciliar a glória eterna com a deste mundo. Para muitos, o Mercado se tornou o “deus” de nosso tempo: é ele quem dita as regras, as estratégias, os alvos, os modismos, enfim, seu senhorio se faz notar explicitamente na sociedade e até em muitas igrejas. É do Mercado, e não da Bíblia, que vem esse novo modelo de liderança exigido em muitos arraiais: uma liderança fluida, light, exageradamente preocupada com imagem, performance e resultados. Ministros/empresários que deixaram de olhar para Jesus, o autor e consumador da fé, para focar os gurus de uma nova era. Resta saber até onde um cego guiará os outros cegos! Aliás, a Bíblia dá essa resposta...

Diogo Souza Magalhães

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