quinta-feira, 22 de abril de 2010

A REIFICAÇÃO DIVINA

Presenciamos o surgimento de uma sociedade tecnicista e utilitarista, marcada pela ascenção da filosofia funcionalista, onde o que reina é a utilidade e a funcionalidade performática das coisas. Nessa sociedade o valor de algo é medido pela sua eficiência e capacidade de satisfazer aos desejos dos seres humanos. Se algo satisfaz, supre e responde aos anseios e expectativas, então é visto como verdadeiro e correto, mesmo que seja apenas um simulacro, uma representação.

É nesse ambiente que se fala de reificação. Reificar é transformar pessoas, seres, em coisas. É também chamada de coisificação. Esta é uma atitude que, quando tomada, é aviltante, pois o homem passa a ser visto como meio e não como fim. Em termos ideáis, a relação de um ser humano com outro deve ser marcada pelo diálogo, encontro, amor e liberdade. A relação do homem com as coisas é repleta de poder, monopólio, experimentação, utilização, alteração, etc. Quando o homem inverte essas relações, experimenta o caos, pois passa a utilizar pessoas em seu próprio benefício e começa a amar as coisas, tornando-se dependente delas. Essa é a realidade do mundo em que vivemos: amam-se coisas e usam-se pessoas !

Que essa seja a situação existente no mundo, principalmente no contexto capitalista em que vivemos, é compreensível, embora não aceitável. Mas, algo ainda mais estarrecedor vem acontecendo. Trata-se da “Reificação Divina”. Transformar um semelhante em meio de satisfação, em utilidade, em coisa, como já dissemos, é inaceitável, mas transformar o Criador, o Sustentador de tudo e de todos, a Causa Primeira, a Realidade Última, o Absoluto, o Incondicional, Aquele que existe em sí mesmo, em meio, não é somente um absurdo, é loucura ! É um tremendo contra-senso, é irracional, pois é negar a essência da própria divindade e da verdadeira religião, para a qual Deus é o centro de tudo.

Entretanto, é exatamente isso o que vem acontecendo em algumas tendências teológicas e eclesiásticas atuais, como por exemplo, a Teologia da Prosperidade. Para tais tendências, Deus tornou-se meio e não fim. Ele é aquele que é usado para que se consiga alcançar determinados fins. Os fins geralmente são prosperidade, saúde, poder, sucesso, etc. Deus, de Senhor tornou-se servo, de Soberano passou a cumprir ordens. Agora não são mais os homens que precisam corrigir seu modo de pensar e de viver aos princípios estabelecidos por Deus, mas este é que tem que adaptar-se aos caprichos humanos.

Estão tentando transformar a Religião Cristã numa grande aberração ! Que continuemos a ressaltar o senhorio, a soberania, a grandiosidade e incondicionalidade de Deus, características e atributos que Ele nunca deixou de ter. Deus não é marionete, nem “menino de recado”. Deus não é coisa para ser utilizado. Como diria Martin Buber, que a relação do homem com Deus seja de “eu e Tu” , de duas pessoas, relação baseada no amor, e não de “eu e coisa”, uma pessoa e uma coisa, relacionamento baseado na necessidade de alguém e na utilidade da coisa.


Pr. Diogo Magalhães

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