quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A BIVOCACIONALIDADE E OS "FAZEDORES DE TENDAS"

Uma das possibilidades de exercício do ministério pastoral é através da bivocacionalidade. Isso se dá quando o pastor, além do ofício pastoral, exerce outra profissão, visando seu sustento, ou mesmo mais uma possibilidade de influenciar sua comunidade. Esta visão ministerial existe desde o contexto bíblico, pois foi desta forma que muitos homens e mulheres de Deus conseguiram desempenhar o chamado de Deus para anunciar sua Palavra.

No Antigo Testamento encontramos personagens como José, que trabalhou na vida político-administrativa do Egito, e Neemias, que era copeiro na Babilônia. Ambos, conscientes de sua missão, desempenharam o “serviço sagrado” ao mesmo tempo em que cumpriam suas tarefas “seculares”.

No Novo Testamento, encontramos o grande exemplo do apóstolo Paulo, que, juntamente com “Áquila e Priscila” exerceu a sua profissão de fazedor de tendas (At.18.1-4; At.20.32), sendo que mais tarde veio a se dedicar plenamente e integralmente ao ministério (At.18.5-6). Paulo usava esse recurso para não ser pesado às igrejas, já que a maioria delas era de pessoas simples, pobres e escravos com poucos recursos financeiros (I Cor. 9.3-18).

No decorrer da história, a visão bivocacional do ministério se desenvolveu em diversos movimentos, como o Nestorianismo, a igreja dos irmãos Morávios e a Missão de Basiléia, onde, especialmente no que diz respeito ao trabalho missionário, tal compreensão foi largamente utilizada, minimizando distâncias entre os obreiros, a cultura e a sociedade.

Hoje, no mundo globalizado, influenciado pelos paradigmas do mercado, os fazedores de tendas são não apenas uma opção, mas uma importante possibilidade de exercício do ministério pastoral e missionário, aumentando o número de obreiros nos campos.

Tal visão apresenta, entretanto, limites e possibilidades. Pensando nos limites, temos provavelmente, como o maior deles, principalmente quando pensamos no obreiro fazedor de tendas como alguém que realmente necessita do sustento levantado através do trabalho secular, o problema da falta de tempo, pois em alguns casos esta pessoa terá que se dedicar muito mais ao trabalho secular do que ao religioso. Segundo, é a questão de dedicação e concentração, ou foco, na tarefa missionária, pois estará dividido, preocupado com outras questões além do cuidado pastoral. Terceiro, é o preparo desse obreiro, que se não for adequado, poderá trazer graves consequências para ele, para sua família e para a obra de Deus, especialmente quando pensamos no trabalho transcultural.

Quanto às possibilidades que esta visão proporciona, temos a quebra de barreiras entre o pastor e a comunidade, fruto da sua “encarnação” no mundo do seu rebanho, o que certamente o tornará muito mais sensível às necessidades dos que o cercam. Além disso, a inserção do pastor no mundo secular aumentará seu círculo de convivência, aumentando teoricamente seu poder de influência e as possibilidades de pregação do Evangelho. Em terceiro lugar, o pastor estará mais consciente e contextualizado à realidade do mundo que o cerca, sendo menos alienado, e se tornará mais engajado, principalmente em questões vinculadas à justiça social. Um outro aspecto é o econômico, pois tal obreiro fazedor de tendas custará menos do que aquele que depende totalmente de uma igreja ou junta missionária, o que possibilita o aumento do número de pastores e missionários nos campos, o que é bastante relevante quando se pensa na realidade das pequenas igrejas e dos pequenos campos. Por fim, há o aspecto ligado á política internacional, pois o fazedor de tendas, quando presta um relevante serviço social (médicos, assistentes sociais, professores, etc), ou quando caem na graça da população (caso dos jogadores de futebol e de outros esportes, etc), conseguem transpor os limites impostos pelas nações em suas relações internacionais.

Vemos, assim, que as possibilidades referentes ao ministério de fazedores de tendas são muito maiores do que seus limites, que, embora existindo, não impedem ou comprometem sua existência.

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