quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A IGREJA E A LUTA CONTRA A IRRELEVÂNCIA

Jesus alertou seus discípulos quanto à perda do poder de influência, quando falou-lhes sobre “o sal da terra e a luz do mundo” (Mt 5: 13-16). Disse ele que, se o sal se tornar insípido para nada mais presta, e se a luz for colocada debaixo do alqueire, perde a sua finalidade. Por inferência, aceitamos que tais palavras têm também algo a dizer quando pensamos na igreja contemporânea e sua perda de sentido e de relevância.

A discussão sobre a relevância cristã no mundo é necessária, principalmente quando nos entendemos parte daquilo que Zygmunt Baumann chamou de “modernidade líquida”, momento experimentado pelo Ocidente marcado por rupturas, desconstruções, incertezas, relativismos e pluralizações que modelam a nossa sociedade, e muitas vezes também a igreja, gerando um grande mal estar. A secularização, especialmente, tem deixado suas marcas na igreja pós-moderna, comprometendo sua missão, seu testemunho, sua vitalidade e seu poder, mexendo em suas “entranhas” e fazendo-a perder sua razão de ser.

Entre os principais elementos que podem fazer uma igreja perder seu sentido de existir se encontram: 1. o eclesiocentrismo, que faz com que a igreja olhe apenas para si mesma, produzindo a perda de sua visão periférica (do Reino e do Mundo) e, consequentemente, de sua missão; 2. a falta de solidariedade, que reproduz um estilo de vida ganancioso e egoísta, sem preocupações com o outro, fazendo a igreja errar o alvo com teologias nefastas como a Teologia da Prosperidade, manifestando maior preocupação com o lucro, do que com as pessoas (N. Chomsky); 3. a falta de aprofundamento Bíblico, gerado pela falta de ênfase nas Escrituras e pelo exacerbamento das tradições, dos simbolismos e da subjetividade estética (música e cultura pop), reproduzindo na igreja a mesma superficialidade comum na sociedade de nosso tempo; 4. a ausência de santidade, em grande parte influenciada pelo estado de iniqüidade em que vive o mundo ao nosso redor e que começa a entrar pelas portas de nossos templos em doses homeopáticas, gerando o Cristianismo light, onde tudo é relativo e permitido ; 5. o simulacro, que faz com que muitas vezes aparentemos o que não somos, manifestando uma hiperrealidade, acreditando que “a imagem é tudo” (base do marketing, inclusive o religioso); 6. ausência de fervor e comprometimento, gerados pelo vazio, hedonismo e egocentrismo de nosso tempo, reproduzindo um estilo de vida hedonista, sem engajamento e desertor, manifestando a ausência de mártires cfristãos; 7. fraqueza e falta de perseverança diante das pressões, tendo em vista que, segundo estudiosos, as grandes utopias morreram e já não há idéias pelas quais viver, nem pelas quais morrer; e 8. infidelidade para com Deus, já que o Criador não é devidamente levado a sério nesses tempos em que nada faz sentido, a não ser o desespero de alguns e o cinismo de outros.

Assim posto, uma igreja perde a relevância para os indivíduos e para a sociedade: 1. quando valoriza as atividades e os programas, mais do que os homens, os relacionamentos, a amizade e a solidariedade; 2. quando permite o culto à personalidade e às instituições, em detrimento do culto à pessoa do Senhor Jesus Cristo; 3. quando valoriza as experiências esotéricas, estapafúrdias e esdrúxulas, ao invés da simplicidade do Evangelho e da santidade da Palavra de Deus; 4. quando valoriza o exterior, o visual, a aparência, ao invés de destacar a vida interior; 5. quando enfatiza a arrogância dos super crentes (bispos, apóstolos, “paipóstolos”, semi-deuses, etc...), e não a humildade dos santos homens de Deus; 6. quando inverte os valores essenciais e eternos do Evangelho por sofismas temporais criados pelos homens; 7. quando perde o caminho do amor, que é o vínculo da perfeição, o caminho sobremodo excelente, o maior de todos os princípios, valores e práticas cristãos; 8. quando torna o Evangelho mais um produto de mercado, barateando aquilo que a Bíblia afirma ser “o poder de Deus para salvar todo aquele que nele crê”; 9. quando perde a reverência pelo sagrado, destituindo-o do seu aspecto numinoso, tremendo e fascinante (R. Otto), levando-o a ser meio, e não fim, colocando-o debaixo do domínio do ser humano.

O estado de irrelevância por parte da igreja requer arrependimento e conversão. Somente assim poderá superar as inversões desenvolvidas, voltando ao primeiro amor e ao cumprimento de sua missão.

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