quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O ESTRATÉGICO RETORNO À TEOLOGIA DA CRUZ

A "modernidade líquida" parece ter vindo para ficar. Por sua influência vivemos numa sociedade marcada pela relativização da verdade, pela pluralização dos valores e pela morte dos metarrelatos. A conseqüência desse fato sobre a igreja é a perda de sua identidade, que promove a indefinição de sua missão e tem como produto final sua irrelevância histórica.

Influenciada pelo pós-modernismo, a igreja vem abandonando a Mensagem da Cruz, tão evidente na Bíblia e na teologia dos reformadores, e trocando-a pela mensagem da auto-suficiência humana, do gozar a vida aqui e agora, acreditando que o Mercado (o Deus de nosso tempo) será capaz de suprir todos os seus anseios e necessidades. Isso explica o modelo religioso produzido no Brasil e no mundo atual, onde “o celeste porvir vem sendo trocado pelo terrestre presente” (Proença). Cada vez mais “prisioneira deste século” (Cavalcanti), a igreja cristã vai reproduzindo internamente a cultura do mundo à sua volta, o que fica evidente em pensamentos como os das Teologias da Prosperidade e da Confissão Positiva, e em modelos e métodos eclesiásticos como os fundamentados em filosofias funcionalistas e pragmáticas, baseados em resultados e números, e alimentados pelas leis de mercado.

Por força de tal realidade, a igreja no Brasil está desenvolvendo um otimismo ingênuo e produzindo uma geração cristã desprovida de senso crítico, de auto consciência e de missão definida. Além disso, vai sendo gestada uma geração sem capacidade de resistência ao mal e à iniquidade. A falta de referenciais históricos, filosóficos e teológicos definidos e a ausência de projetos para o futuro fazem com que a igreja esteja presa hedonisticamente ao presente. Um dos piores resultados dessa condição é a ausência de esperança, pela falta de interesse na metahistória.

Reinserir a Teologia da Cruz no universo teológico eclesiástico contemporâneo parece ser a resposta que possibilitaria a superação da ordem vigente, trazendo relevância à igreja, pois ela resgataria sua identidade perdida, associando a comunidade de fé com o exemplo de Cristo e com sua missão neste mundo. Para tanto, a Teologia da Cruz deveria influenciar a formação teológica das futuras gerações, através de sua inserção nos currículos das instituições teológicas, avaliar e alterar a liturgia contemporânea, desprovida de profundidade e de cristocentricidade, e redefinir a missão da igreja no mundo, que seria muito mais do que gozar as bênçãos do Reino ainda nesta vida, e sim, engajar-se no projeto de Deus para salvação do mundo, através da ação integral.

Como a Teologia da Cruz, que fala de morte, aponta para a superação desta terrível condição, a mesma deve ser acompanhada da mensagem da ressurreição, trazendo esperança para a igreja em meio às aflições que sofre no mundo por causa de sua labuta em prol do Reino de Deus. A Ressurreição cristã, que é loucura para a sociedade hedonista (I Co 1:18), se torna assim, fundamento para a perseverança da igreja e do crente em Cristo, no Evangelho e no cumprimento de sua missão, gerando fidelidade e compromisso em tempos de deserção.

Portanto, a igreja brasileira não pode se esquecer jamais, sob risco de se torna obsoleta e irrelevante, do que o Senhor Jesus afirmou sobre a nossa relação com a cruz: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz e siga-me. Porque qualquer que quiser salvar a sua vida perdê-la-á, mas qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a achará.” (Mc 8: 34,35). Que assim seja! Amém!

Nenhum comentário:

Postar um comentário