quarta-feira, 28 de abril de 2010

AINDA SOBRE A TRINDADE

Sobre a Trindade, faço ainda algumas observações:

O Deus monoteísta não é um ser exclusivo dos judeus. Houve um forte desenvolvimento do monoteísmo no Egito, especialmente na época de Faraó Amenofis IV, quando, inclusive, o credo de AMON foi trocado pelo culto a ATON (O Deus único dos egípcios). Creio, também, que Deus se revelou a vários povos e em várias culturas. Entretanto, sua revelação máxima, segundo o dogma cristão, se deu na pessoa de Jesus, que era um judeu, imerso naquela cultura e na teologia desenvolvida por aquele povo. Creio que Jesus não pode ser devidamente compreendido fora deste contexto, embora este contexto (judaico) não o esgote. Deus é o “Supremo Bem” (“SUMMUM BONUM”), como dizia Agostinho, e depois o famoso filósofo protestante Immanuel Kant, estando acima das instituições e institucionalizações, embora se manifestando também através delas.

Verdadeiramente Jesus é “totalmente homem e totalmente Deus”. Tal posição evita os problemas produzidos pelo Arianismo e pelo Nestorianismo. É verdade que hoje se evidencia a divindade de Jesus muito mais do que a sua humanidade. Mas isso é “culpa” de teólogos como Schweitzer e Bultmann, que legaram à humanidade de Jesus um valor inferior ao de sua divindade, ao incentivarem o “Cristo” em detrimento do “Jesus”, o “querigma pós-pascal” em detrimento de “pré-pascal” e a “Cristologia de cima”, em detrimento da “de baixo”, se me permitem usar os jargões teológicos. Precisamos, realmente, conhecer mais a humanidade de Jesus, que, inclusive, é referência, paradigma e modelo para nós, ao contrário de sua divindade, com a qual nos identificaremos apenas na plenitude do Reino e após a glorificação.

Muitas posições poucos ortodoxas têm surgido sobre o Espírito Santo, mas isso é compreensível, afinal o Espírito Santo é o “Proscrito da Trindade”, como dizia o teólogo Antônio Carlos de Melo Magalhães, quando evidencia em seus artigos que muito pouco se estudou o Espírito Santo na História da Teologia, muito menos ainda se discutiu sua doutrina e se escreveu sobre ela. Há toneladas de documentos sobre o Pai e sobre o Filho na literatura teológica universal e apenas algumas gramas sobre o Espírito. É realmente um terreno teologicamente instável! Entretanto, assim como a Cristandade em geral não abre mão da doutrina das duas naturezas de Cristo, mesmo sem poder apresentá-la satisfatoriamente, eu não abro mão da doutrina da Divindade do Espírito Santo e da existência de sua personalidade, marcada, inclusive, pela presença de uma vontade própria.

Certamente, “fé é um salto no escuro”, uma reação desesperada contra o desespero existencial, mas que traz paz ao coração do homem, ao pacificá-lo com Deus. Somos finitos, e, como dizia o filósofo Leibniz, “a roda maior não pode ser abarcada pela roda menor”, tentando argumentar a limitação humana em compreender e falar de Deus. Quando pensamos em Deus como o “Infinitamente Outro” ou o “Totalmente Outro”, no linguajar barthiano, fica mais fácil reconhecer que nossa mente finita jamais poderá abarcar plenamente seu conhecimento. A humildade, portanto, é uma virtude necessária no labor teológico.

Pr. Diogo Magalhães

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