quarta-feira, 28 de abril de 2010

QUESTÕES SOBRE A TRINDADE

Não foi Tertuliano que “criou” a idéia de Trindade, ou de Triunidade, mas, ele sistematizou algo que está na Bíblia de maneira não sistemática, o que caracteriza por excelência o labor teológico. A Bíblia fala de uma Deus Criador, ser incriado, causa-não-causada, origem de tudo e de todos. A Bíblia fala, também, de um Salvador Divino, homem-Deus, Deus-homem, distinto do Criador, marcado por sua própria subjetividade. Por fim, ela ainda apresenta um Espírito Divino, Santo, Paracletos, incorpóreo, distinto do Criador e do Salvador, mas dotado de consciência própria. Foi com esta situação que Tertuliano se deparou nos primeiros séculos da Era Cristã: a presença de um único Deus e de três personalidades divinas. Era isso o que estava (e está) na Bíblia. Por isso ficava a dúvida: se é um só Deus (o Criador), quem são e qual a natureza das outras duas personalidades? Por outro lado, se são três deuses, como fica o pilar monoteísta judaico-cristão do Deus único?

Há um consenso de que a melhor resposta racional sobre o assunto foi a encontrada por Tertuliano, ou seja, a de que “existe um único Deus verdadeiro, essência e substância única, marcada por três personalidades distintas, autônomas, livres”. Não é um único Deus, destituindo-se Jesus e o Espírito dessa categoria (Judaísmo), não são três Deuses (Triteísmo-Politeísmo), nem três manifestações diferentes do mesmo Deus em uma única personalidade (modalismo). É um único Deus (substância), marcado por três pessoas distintas (três personalidades). Alguém chegou a dizer que a Trindade é uma Comunidade Divina.

Todas as outras possibilidades trazem dificuldades tremendas à fé cristã:1- dizer que são três deuses diferentes é dizer que a religião cristã é politeísta, ou triteísta, identificando-a com o Paganismo (visão do Politeísmo Pagão); 2- dizer que Jesus Cristo não é Deus é negar também doutrinas centrais da fé cristã, como a encarnação (Emanuel), a ressurreição, o senhorio de Cristo, a parousia, o Cristo Pós-Pascal, etc. (visão do Espiritismo e das Testemunhas de Jeová); 3- dizer que o Espírito Santo não é divino é negar sua autoridade na revelação, inspiração e iluminação bíblicas, além de tornar a igreja uma instituição humana qualquer, sem a presença do Espírito de Cristo (visão do Espiritismo e das Testemunhas de Jeová).

O trabalho de Tertuliano, portanto, foi fundamental para a “saúde doutrinária” cristã. Tal visão é seguida por quase todas as tradições cristãs (batistas, presbiterianos, metodistas, luteranos, cristãos evangélicos, ortodoxos, católicos, pentecostais, neo-pentecostais, etc……), havendo poucas vozes destoantes, em especial, grupos sequer reconhecidos como cristãos (Kardecistas, Testemunhas de Jeová, Unitarianos, etc).

Não estou dizendo com isso que a Doutrina Trinitária é verdade absoluta, mas que não existe outra melhor, mesmo depois de quase dois mil anos, que possa sistematizar o que a Bíblia apresenta sobre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Nesse ponto diferenciamos Revelação Divina de labor teológico: a revelação é absoluta, a teologia pode ser debatida, e deve ser debatida, em busca de sua maior aproximação da Verdade (o que Deus revelou).

Precisamos aceitar que, enquanto humanos, vamos sempre nos deparar com limitações gnoseológicas ou epistemológicas, o que é evidência de nossa finitude. O que nos resta é nos debruçarmos sobre as Escrituras e seu estudo e crermos na soberania e providência de Deus quanto à sua revelação, concedendo-nos a possibilidade de compreensão de sua Palavra, através da ação do Espírito Santo e do estudo sistemático da Bíblia.

Pr. Diogo Magalhães

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