sexta-feira, 23 de abril de 2010

A AUTONOMIA HUMANA A PARTIR DA PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO

Afirmam alguns pensadores que o ser humano chegou à maioridade. Isso quer dizer que o homem não mais precisa de um pai, de um guia, de um orientador e de um Deus. O homem alcançou ‘a idade da razão’, diria Sartre, e com ela a sua liberdade. É livre para ir e vir, para pensar e fazer, para decidir o seu caminho, o seu futuro. Eis o estado da humanidade em nosso tempo: sente-se independente, auto-suficiente, autônoma, bastando-se a si mesma.

Tal realidade é semelhante àquela contada por Jesus Cristo na chamada ‘Parábola do Filho Pródigo’, relatada no Evangelho de Lucas, capítulo 15. Alí o ser humano é apresentado por Jesus como alguém que um certo dia ‘vira a mesa’, resolvendo viver a vida para sí, independentemente, abandonando o pai, o irmão, sua casa, recebendo sua herança e gastando-a com os prazeres da vida. A idéia marcante no texto é a de que aquele jovem resolveu viver a vida unicamente para si, buscando suas satisfações pessoais, sem dar satisfações de seus atos a ninguém, vivendo uma vida centrada em si mesmo.

Qualquer semelhança com a humanidade de nosso tempo não é mera coincidência. A tipologia daquele jovem refere-se ao ser humano em toda a sua rebeldia contra o Criador. Este é o estado atual do homem diante de Deus. Como se rebelou contra o Criador, se encontrando numa situação desfavorável, tenta agora a todo o custo negar o Criador, negar sua relação com o criador, negar a necessidade de um criador. Entretanto, negar o Criador é negar-se a si mesmo, pois não há efeito sem causa.

A pseudo-liberdade humana é, portanto, uma aparência, um sofisma. Veja os frutos de tal realidade, como por exemplo, o caos da sociedade agnóstico-ateísta, a desestrutura que reina nela, o vazio, a falta de sentido e de esperança, a ausência de referenciais seguros e estáveis. Veja também o fruto de tal realidade na vida dos homens: ansiedade, insegurança, impotência, insensibilidade, medo e todas as doenças de nossa sociedade. Não é esta a situação do jovem da parábola, quando abandona a segurança de seu lar em busca de aventuras ? Não teve como consequência um processo de aviltamento, de degeneração, de desestrutura, de negação do que realmente é ? Não foi esse o preço natural de sua rebeldia ?

Por mais que Deus tenha dotado o homem de livre-arbítrio, este não é totalmente livre a ponto de viver sem prestar contas de seus atos a ninguém. Entretanto, tal idéia é passada em nossos dias. ‘Deus está morto’, diriam alguns. Outros diriam: "Deus não existe e, por isso, tudo é possível". A negação de Deus tem produzido a permissividade no mundo atual. Tal subjetividade não é a causa de grande parte dos males de nosso tempo ?

O homem precisa reencontrar a dimensão relacional de sua existência. E isso deve começar com o resgate e reestrutura de sua relação com o Pai, com Deus. Para que tal estado seja alterado, ele deve reconhecer sua limitação intrínseca, sua dependência, pois ele não se basta. Não é na auto-afirmação que o homem encontrará vida. Precisa retornar às suas origens, assim como fez o filho ao tomar consciência do seu estado. Precisa deixar o ponto em que está e retornar à casa Paterna. É no retorno a Deus que a alma humana encontrará a paz que sempre buscou.

Pr. Diogo Magalhães

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