quinta-feira, 22 de abril de 2010

EXISTE AMOR DESINTERESSADO?

Assisti a um programa de televisão onde alguém falava a respeito do amor. Falava de uma forma que nunca ouvira anteriormente: “amor é busca de auto-satisfação,... quem ama deseja somente a realização pessoal”, disse o interlocutor. Confesso que fiquei pensativo com aquelas afirmações, pois, pela formação cristã, nunca pensara deste modo. Havia aprendido que amor e egoísmo são opostos e excludentes.

Os anos se passaram até que me deparei com a mesma idéia, agora no pensamento de um filósofo chamado Helvétius, que defendia a idéia de que o único amor que existe é aquele dispensado a si mesmo. Todo amor, na ótica desse pensador francês, é egoístico, buscando apenas auto-realização. Um outro pensador que chegou à mesma conclusão foi Freud. Em uma de suas obras, comentou a narrativa bíblica em que duas mulheres lutavam pela maternidade de uma criança. Segundo o pensador austríaco, o sábio Salomão teria se equivocado ao dar a posse da criança àquela que abriu mão do infante, como se fosse a mãe verdadeira, pois, segundo o psicanalista, a verdadeira mãe nunca entregaria seu filho a outrem. Ela preferiria a morte da criança a abrir mão da satisfação de ser mãe.

A Bíblia nos fala, entretanto, da existência de um amor desinteressado, destituído de egoísmo. Foi com este amor que Deus amou a humanidade, foi também com ele que Jesus entregou a sua vida como propiciação pelos nossos pecados, e é sobre ele que a Igreja tem estruturado a sua experiência comunitária. Assim, ao homem que nasceu de novo, que recebeu o amor de Deus, que o experimentou em sua vida e que deseja amar da mesma forma como foi amado, é possível buscar o “imperativo categórico”, o bem-supremo, abstendo-se de valores inferiores. Em Deus, o amor desinteressado se torna possível!

Se considerarmos o fato de que a mulher que Salomão entendeu ser a mãe verdadeira da criança era temente a Deus e que em sua vida cotidiana buscava cumprir os ensinos da Palavra do Senhor, acreditamos ser possível, sim, que tal pessoa experimentasse o genuíno amor, capaz de abrir mão dos seus interesses em favor do bem de uma outra pessoa, no caso, a vida do seu filho.

Parece que foi neste ponto que Helvétius, Freud e o interlocutor da televisão se equivocaram: eles viram o ser humano apenas numa dimensão natural, marcada pelo egoísmo e pela maldade, frutos da "queda", mas se esqueceram de que o homem pode transcender tal dimensão, quando unido a Deus, através do recurso da fé, tendendo a experimentar a alegria de amar sem "interesses" ou segundas intenções.

Pr. Diogo Magalhães

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