sexta-feira, 6 de agosto de 2010

INQUIETAÇÕES MIDIÁTICAS

Já participei de encontros e já li livros e dissertações acadêmicas sobre a influência da mídia perante a sociedade e, na grande maioria deles, a afirmação que sempre se destaca é a de que a mídia não influencia a vida, a cultura e os costumes de uma sociedade, mas ela é sim a própria representação dos mesmos, ou seja, a mídia não produz uma realidade, mas é fruto de uma realidade social.

Para início de conversa, não concordo plenamente com tal afirmação. Apesar de constatar que a mídia é muitas vezes influenciada pela sociedade, constato também que ela é altamente influenciadora, formadora de opinião e quebradora de paradigmas. Não é à toa que hoje é chamada de “o quarto poder”. Além disso, no passado alguém já disse que, quem detém a informação, detém também o poder. Sabemos que no mundo de hoje não há como separar informação, de poder. Se estou certo no que digo até aqui, quando falamos da mídia, falamos também de interesses, de ganhos e perdas, de ideologias, de parcialidade, de domínio, de influência, de mercado e de dinheiro.

A mídia certamente não é isenta e imparcial, pois representa os interesses de pessoas e grupos que a administram e investem altas somas de recursos nela. Desde que Goebels, um dos homens mais próximos de Hitler, percebeu o poder de influência que havia nas transmissões radiofônicas na década de 30, acabou transformando a mídia em um dos maiores suportes para o controle ideológico das massas durante o período da Segunda Grande Guerra, na Alemanha. Será que tal realidade seria diferente no mundo e no Brasil de hoje ? Será que a televisão seria menos influente ? Ou quem sabe, será que aqueles que investem suas fortunas na mídia hoje são mais autruistas e desinteressados, menos preocupados com algum tipo de retorno ?

Acredito que seria muita inocência a resposta positiva para qualquer dessas questões. Por exemplo, a mídia e, mais particularmente, a televisão tem sido largamente usada para questionar e até quebrar valores, princípios e axiomas. Não tenho o costume de boa parte da população brasileira de assistir televisão todas as noites em casa. Na verdade não disponho de tempo para isso. Quando muito, assisto às altas horas da noite ao jornal da tv para manter-me informado (talvez desinformado, ou quem sabe mal-informado, não sei ao certo...!). Mas, durante esta semana tive a oportunidade de assistir a dois capítulos de uma novela de uma das emissoras do nosso país. Fiquei estupefato com que ali vi! É verdade que já tinha ouvido dizer que a igreja católica romana no Brasil havia se manifestado negativamente quanto à tal novela, mas eu, particularmente, nunca havia comprovado os motivos para tal.

O que assisti naquelas duas noites, entretanto, me deixou preocupado e me levou a algumas reflexões. Pensei: será que o povo brasileiro tem noção do que realmente está sendo tratado ali, ou pensa que a novela é apenas uma estorieta pra entreter os espectadores? Será que junto às cenas picantes e sensuais, as pessoas conseguiam perceber o teor das discussões de caráter ético e filosófico contidos nos diálogos entre os personagens? O que realmente estava em jogo ali era a felicidade de uma personagem ou todo um conjunto de valores que estavam sendo nihilisticamente destruídos de maneira tendenciosa? Não quero destruir o romantismo de alguns que tanto gostam dos dramalhões mexicanos (e brasileiros), mas, além do óbvio, haviam muitas coisas sendo ditas sem que as pessoas pudessem se aperceber. Querem exemplos ? Eis alguns, abaixo:

1.A existência de Deus foi duramente questionada quando uma personagem falou que não havia justiça que fosse perfeita para julgar sua causa. 2. O caráter absoluto de alguns valores como verdade, honestidade, fidelidade, entre outros, foi duramente questionados quando supostamente uma atitude em prol da vida e do amor foi vista como superior a qualquer outro valor considerado absoluto. (Outras atitudes que não a que foi tomada seriam possíveis para solucionar o problema da mesma forma). 3. O caráter absoluto dos valores foi fortemente combatido quando se tentou demonstrar que não existem realidades perfeitas, ou seres perfeitos que possam produzir regras, valores e juizos absolutos para os homens, ressaltando-se que cada qual deve ser senhor de sua consciência, sendo capaz de produzir seus valores pessoais. 4. A ética situacional e funcionalista foi enfatizada, motivada pela influência das circunstâncias, passando pela idéia de que “os fins justificam os meios”, ou seja, tudo é correto se o objetivo é justo e bom. 5. O conceito cristão de amor foi desvirtuado, já que o amor “não se conduz inconvenientemente”, “não se alegra com a injustiça”, “mas regozija-se com a verdade” (I Co 13).

O que muitos não perceberam é que naquele momento, naquela “simplória” novela, estavam sendo discutidos idéias e conceitos de um pensador alemão chamado Friederich Nietzsche, considerado um dos maiores pensadores do século passado e o filósofo mais lido na atualidade, que pregou a “transvalorização de todos os valores”, ou seja, a inexistência de valores absolutos e eternos. Para tal pensador, o mais importante é a vida e ela deve reger os valores de um homem. Daí sua inaceitação do Cristianismo e dos ensinos de Jesus, pois não entendia como seria possível alguém “dar a outra face”, “caminhar a segunda milha”, “renunciar” e até “morrer”, para poder viver. Esses, segundo Nietzsche, eram valores degenerados de uma humanidade decadente. Nietzsche nunca aceitou (talvez por nunca entender) a palavra de Jesus, que dizia: “quem quiser salvar a própria vida perdê-la-á, e quem perder sua vida por amor a mim, salva-la-á”, ou ainda outra que afirmativa: “se o grão de trigo, caindo na terra não morrer, ficará ele só, mas se morrer, dará muito fruto”, e ainda quando o mestre disse “de que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma ?”. A nova humanidade, segundo Nietzsche, o chamado “super-homem”, deveria amar a vida e buscar a cada dia a sua realização em sua auto-afirmação e nunca em sua própria negação.

Por esse caso e por inúmeros outros motivos percebemos que grande parte da mídia no Brasil não tem compromissos com Cristo, com o Evangelho e com a ética cristã. Na verdade, a mídia chega a ser muitas vezes nitidamente anticristã e antievangélica. Quantas vezes você já viu uma novela onde um cristão fosse apresentado positivamente ? Quantas vezes você já viu um programa ou reportagem que fizesse alusão às igrejas cristãs de forma positiva ? Quantas vezes foram eles imparciais ?

Creio que a questão é: até quando continuaremos a nos deliciar com “os banquetes” que a mídia brasileira nos proporciona ? Continuaremos recebendo seus serviços por ignorância (sem saber que são o que são) ou por desobediência (sabendo o que são, mas mesmo assim gostando do que vemos) ? Ou será que teremos a coragem de dizer não!, basta! e já chega! ? Seríamos capazes de boicotar a mídia, como norte-americanos fizeram há pouco tempo para que a programação da tv pudesse ser mudada e melhor adequada ao padrão de seus lares ? Ou nossas tvs continuarão sendo um “cavalo de tróia”, “um presente de grego” dentro de nossas casas ?
Há algo que me inquieta profundamente e eu sinceramente espero que inquiete a você também !

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