quinta-feira, 30 de setembro de 2010

IGREJA E DISCIPULADO

Discipulado é o processo através do qual ensinamos uma outra pessoa a caminhar com Cristo, experimentando a presença de Deus e tendo seu caráter modelado à luz da mensagem do Evangelho e do exemplo de Jesus. O maior exemplo deste processo é o encontrado na relação de Jesus Cristo com os seus discípulos, como encontrado em Mt 5:1-7:29, quando o Mestre ensinou a sua doutrina àqueles que haveriam de dar continuidade à sua obra.

Essa convivência formadora não é, entretanto, um processo de “reprodução de clones”, pois considera as liberdades individuais e a relação com o contexto histórico, geográfico e cultural, observando ênfases, tendências e peculiaridade de cada situação. Apesar disso, considero alguns conteúdos essenciais na prática do discipulado cristão. Passo a enumerá-los a seguir:

O primeiro conteúdo essencial é a soberania de Deus (Mt 11:25a). Deus é Senhor da História, da Igreja e da consciência de cada indivíduo. A sua vontade tem se estabelecido ao longo da história da salvação, consumando a Sua Palavra. Diante da vontade soberana de Deus, cabe-nos ajustar nossos projetos pessoais aos propósitos divinos. É Ele quem dirige, governa e comanda. Nós somos seus servos, dispostos a auxiliá-lo no cumprimento da Missio Dei. No discipulado cristão sadio não há lugar para a manipulação e reificação divinas.

O segundo conteúdo é a antropologia marcada pelo pecado (Rm 3:23). Não somos bons, como queria Rousseau, ou super-homens, como desejava Nietzsche. A condição humana é marcada pela presença do pecado, ou desvio dos planos e propósitos de Deus. Por causa do pecado a natureza humana é inclinada ao erro e está alienada de Deus. Por si mesmo o homem não pode encontrar plena realização. Sua verdadeira satisfação está em Deus.

O terceiro conteúdo é a soteriologia libertadora (Mt 18:11; At 16:31; Rm 10:13) . Por se encontrar no estado supra citado, o ser humano precisa de salvação. Deus pode salvar o homem através do sacrifício de Cristo na cruz do Calvário. O homem não é salvo por sua própria ação, suas obras, ou seus feitos, mas pela graça de Deus, por meio da fé (Ef 2:8). Justificado por Deus o crente pode cumprir a Sua vontade e participar da ação divina em prol da libertação de outras pessoas.

O quarto conteúdo é a visão missionária (Mt 28:18-20; At 1:8). Não vivemos sem referenciais ou aleatoriamente. Há uma causa maior pela qual lutamos, que é a implantação do Reino e salvação do pecador. Essa missão precisa ser vista como integral, abarcando não somente a esfera “espiritual”, mas também a material. O homem todo deve ser atingido pelo Evangelho e transformado pelo seu poder. Há um compromisso constante com a evangelização, mas também com a diaconia.

O quinto conteúdo essencial ao discipulado cristão é o da visão educacional (Rm 12:1,2; 2 Tm 3:14-17). Ela precisa ser libertadora e crítica, capacitando o discípulo a repensar sua condição a cada momento, fazendo da educação um processo inacabado e contínuo de aperfeiçoamento. Há sempre algo mais a aprender, a melhorar, a aprimorar. O discípulo deve ser capaz de fazer novas leituras de mundo, dentro de sua realidade histórico-cultural, tendo como fundamento as Escrituras, não apenas reproduzindo saberes, mas produzindo-os, também. Aliás, não apenas produzindo saberes, mas ações efetivas em prol da transformação do homem e do mundo.

Penso que tais conteúdos sejam fundamentais ao discipulado cristão contemporâneo, tornando-o eficaz, produzindo uma nova geração de discípulos engajados na missão cristã de gerar novos discípulos.

Um comentário:

  1. Muito obrigada por tão sábias palavras, vieram em um tempo oportuno me dado uma nova cosmovisão de detalhes fundamentais e que por pouco passam despercebido, muito enriquecedor e de fácio contextualização aos que necessitam de uma direção para o desenvolvimento de tão rico e precioso trabalho! Deus o continue a abençoar... Missionária Israelita Naiara

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