segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O PENSAMENTO DE JESUS E OS FUNDAMENTOS DE UMA TEOLOGIA PRÁTICA

O pensamento produzido por Jesus durante seu ministério pode ser chamado de “teologia prática”, na medida em que seu interesse maior não eram as elucubrações teológico-filosóficas sobre Deus, o mundo, o homem, etc., mas as questões que influenciavam diretamente a vida do povo, ligadas não apenas ao saber, mas ao existir e ao saber-fazer. Por outro lado, embora possamos afirmar que seu pensamento fosse prático, não era destituído de reflexão, afinal, ele repensou muitos valores, idéias, e práticas comuns ao seu tempo, especialmente quanto ao judaísmo e ao paganismo antigos.

A teologia de Cristo tinha a ver com sua vivência com o povo de Deus. Ela não foi desenvolvida numa “torre de marfim”, longe de uma comunidade de fé, desencarnada, descontextualizada geográfica e historicamente, mas, ao contrário, foi desenvolvida em meio às experiências de um povo com Deus, dentro de um contexto muito específico de exploração e de opressão política, social e espiritual, como ocorreu no primeiro século da era cristã, o que nos possibilita conhecer e interpretar adequadamente seu pensamento.

O pensamento de Jesus evidenciava sabedoria e discernimento na busca da compreensão da vontade de Deus para aquela realidade. Tal compreensão implicava em anúncio e denúncia. Por isso seu ministério foi marcado pelo anúncio de esperança, justiça, paz e alegria para aqueles que ansiavam pelo Reino de Deus, e pela denúncia de toda injustiça, maldade, infelicidade e falta de perspectivas experimentada por aqueles que continuavam a viver suas vidas distantes de Deus.

Por traz da teologia de Jesus havia uma prática teológica, um modus vivendi e um modus faciendi desenvolvidos pelo Mestre que podiam ser observados por todos. Aliás, depois do seu discurso (sermão) no monte, a Bíblia diz que as multidões se maravilhavam, porque Jesus não ensinava como os escribas e fariseus, líderes religiosos de seu tempo, mas com a autoridade de quem experimenta seus próprios ensinos e sabe que efetivamente funcionam (Mt 7:28,29). Ele possuía um discurso competente.

O pensamento de Cristo é ainda hoje fonte inesgotável de novas reflexões e de novas práticas contextualizadas aos novos tempos, adaptadas às diversas culturas, repensadas e aplicadas ao mundo hodierno, a fim de obter os mesmos propósitos desejados por Jesus: a glória de Deus, a salvação dos pecadores, a restauração da comunhão do homem com Deus, a santificação e transformação de vidas, tudo isso através da ação missionária da Igreja Cristã.

A teologia que Jesus produziu era prática porque o Messias não foi apenas um pensador, um teórico, mas também um Mestre e Pastor. Seu foco estava direcionado para o ser humano, com suas necessidades e mazelas, contradições e imperfeições. Por este povo Jesus chorou e intercedeu. A eles o Nazareno exortou, corrigiu e alertou. Com as massas o Mestre sofreu e se solidarizou. Aos pequeninos o Galileu amou, cuidou e apascentou.

Por fim, a teologia de Cristo inspira ainda hoje em seus discípulos, o desejo de desenvolver uma espiritualidade cristocêntrica, o ensejo de andar como ele andou, de viver como ele viveu e de se tornarem semelhantes a ele. Além disso, seus discípulos desejam, ao seguir seu exemplo, desenvolver uma espiritualidade solidária, não centrada em si mesmos, mas voltada para o outro, marcada pela alteridade, ... uma espiritualidade que seja evidenciada pela busca comunitária de Deus e do seu Reino.

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