segunda-feira, 2 de maio de 2011

Temas Relevantes na Teologia do Antigo Testamento

Segundo a visão de Smith, um dos diversos métodos de análise do Antigo Testamento é o Temático-Dialético, defendido pelos teólogos Terrien, Westermann e Hanson, no qual se estabelecem temas opostos na tentativa de entendimento de um problema maior. Podemos dizer que outros dois pares de temas teológicos que sintetizam um roteiro para a Teologia do Antigo Testamento, além da Bênção e Promessa são: Juízo e Misericórdia; e Eleição e Aliança.

No tocante ao par Juízo-Misericórdia vemos que desde os primeiros capítulos de Gênesis encontramos na narrativa da Queda (Gênesis) a consequência do pecado como manifestação do juízo de Deus: “No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gn 3.19) e ainda: “O SENHOR Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado.”(Gn 3.23). Mais à frente, porém, vemos a manfiestação da misericórdia de Deus, numa visão humana de um Deus que se arrepende de seu juízo e volta atrás: “Então disse o SENHOR: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos.”(Gn 6.3). Esse par de atitudes “juízo e misericórdia” vão permear toda a história do Antigo Testamento e estará presente em praticamente todos os estilos literários – Tora - Profetas e Escritos - conforme nos indica Westermann. Podemos, inclusive, dizer que tal tema se estende e penetra o Novo Testamento, quando Deus mostra-se definitivamente misericordioso para com aqueles que aceitam sua graça e seu plano Redentor final.

No tocante ao segundo par Eleição-Aliança, é necessário dizer que eleição traz a idéia de um exame mais minucioso em algo, de teste. Esse termo (Bachar, em hebraico) aparece cerca de 198 vezes no AT, e poucas vezes vem sem conotações teológicas. Ele nos leva quase sempre à idéia de uma escolha criteriosa e bem pensada, como em (I Sm.17:40; I Rs.18:25; Is.1:29; 40:20).

De acordo com Clauss Westermann, a eleição seria um conceito desenvolvido depois que Israel já estava na terra prometida, mas proclamado desde as primeiras narrativas do Antigo Testamento. É uma prerrogativa de Deus e nada tem a ver com o merecimento do povo de Israel ou qualquer qualidade que ele tivesse. Além disso o povo também é chamado à eleição. Em Josué, por exemplo, vemos o autor dizendo a seu povo: “Escolhei hoje a quem sirvais”(Js 24.15) o que denota que embora Deus fosse soberano, ele sempre concedeu ao homem o privilégio do livre-arbítrio. Deus escolheu um povo para ser seu, não por causa do mérito desse povo, mas por sua graça. Só que Ele sempre deu a esse povo à liberdade de escolhê-lo de volta ou não.

Para com aqueles que escolheram servi-lo, foi feita uma aliança, cujo termo originalmente tratava de pactos entre Reis e seus vassalos. Esse não é o sentido bíblico mais apropriado para a Aliança entre Deus e seu povo, visto que na idéia original era algo mais unilateral, onde o vassalo tinha muito mais obrigações do que privilégios.

A aliança entre Deus e seu povo está bem mais cercada de contrapartidas por parte de Deus. No Antigo Testamento quando aparece esse termo referindo-se à relação entre Deus e o homem, percebe-se muito mais o relato de uma postura de graça e misericórdia por parte de Deus e de compromisso por parte do homem. Apesar de Deus ter direitos sobre o homem, Ele não tem deveres para com o mesmo. Assim, a Aliança que Deus propõe ao povo de Israel, fortemente representada em Abraão (Gn 12) é marcadamente um ato de exposição de Deus (Gn 32.10), que nada deve a ninguém, mas decide espontaneamente abrir seu coração e se expor ao homem.

Para Eichrodt, a aliança seria o tema central do Antigo Testamento, visto que ela representa um Deus cheio de graça e disposto a abrir mão de suas prerrogativas em favor do homem a quem ama.

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