Diálogos com Paul Tillich e Simone Weil: uma crítica filosófica cristã ao Marxismo
Diogo Souza Magalhães[1]
RESUMO:
Este artigo apresenta as visões de dois filósofos
cristãos sobre o Marxismo: Paul Tillich e Simone Weil. Após introduzir a
crítica feita pelo filósofo socialista Walter Benjamim ao Capitalismo, enquanto
uma espécie de religiosidade secular, aponta que o Marxismo também pode receber
críticas semelhantes. Tal parecer é realizado a partir da perspectiva tillichiana,
que se refere ao Marxismo como uma religião demônica, bem como considerando o
pensamento de Weil, que compreende o Marxismo como uma falsa ciência, baseada
num sistema dogmático de pensamento. Conclui, apontando o caráter religioso,
necrófilo, opiáceo e dogmático do Marxismo.
PALAVRAS-CHAVE: Cristianismo. Filosofia da religião cristã. Marxismo. Paul
Tillich. Simone Weil.
ABSTRACT: This article
presents the views of two Christian philosophers on Marxism: Paul Tillich and
Simone Weil. After introducing the criticism made by socialist philosopher
Walter Benjamin to Capitalism, as a kind of secular religiosity, he points out
that Marxism can also receive similar criticisms. Such an opinion is carried
out from the Tillichian perspective, which refers to Marxism as a demonic
religion, as well as considering Weil's thought, which understands Marxism as a
false science, based on a dogmatic system of thought. It concludes by pointing
out the religious, necrophilic, opiate and dogmatic character of Marxism.
KEYWORDS: Cristianism. Marxism. Paul Tillich. Philosophy of christian religion. Simone Weil.
1
Introdução
Neste início de século muitas discussões existem entre
os ideólogos acerca das filosofias políticas e econômicas. As mais debatidas na
atualidade continuam sendo o Capitalismo e o Socialismo. Devido à forte ênfase hegemônica
relativa ao pensamento de Esquerda na Academia nos últimos 50 anos no Brasil,
muitos desconhecem as críticas feitas ao pensamento e à prática socialistas,
especialmente marxistas.
Desde a primeira metade do Século XX o Socialismo
recebeu fortes críticas. Ludwig Von Mises (2012), Milton Friedmann (2014) e Friedrich
Von Hayek (2017), por exemplo, o criticaram em termos políticos e econômicos. George
Orwell (2009) e Herman Dooyeweerd (2014), por outro lado, formularam críticas políticas
e mais filosoficamente embasadas, sendo igualmente contundentes. Infelizmente a
Academia brasileira praticamente desconhece as críticas feitas ao Marxismo pelo
filósofo alemão Paul Tillich (2010), em termos filosófico-religiosos, e pela filósofa
francesa Simone Weil (2001), com ênfase filosófica e epistemológica.
Walter Benjamin, um dos grandes protagonistas da
Escola de Frankfurt na Alemanha nas primeiras décadas do Século XX, formulou
uma crítica ao Capitalismo, afirmando-o como uma religião (BENJAMIN, 2013). Isso
aconteceu através de um de seus textos menos conhecidos no Brasil, intitulado Gesammelte Schriften VI (Escritos
Recolhidos VI), escrito em duas
laudas, em 1921, e traduzido para o português por Nélio Schneider e Renato Pompeu,
que deram ao mesmo o título de O
Capitalismo Como Religião (BENJAMIN, 2013).
Assim como Benjamin fez sua crítica ao Capitalismo,
é possível a partir de premissas semelhantes formular críticas ao Socialismo. O
objetivo desse artigo, então, é apresentar as principais idéias de Tillich e
Weil sobre o Marxismo, e através delas, expor críticas e sugestões antitéticas
ao Marxismo.
2
Procedimentos metodológicos
A pesquisa realizada é qualitativa. O método
utilizado para coleta de dados foi a Revisão Bibliográfica, desenvolvida
através da noção de corpus teórico,
referindo-se não uma coleção completa de literatura, ou uma bibliografia
inteira de determinado autor, mas a uma coleção finita de materiais (BAUER;
AARTS, 2015). Embora os significados mais antigos de corpo de um texto impliquem a coleção completa de textos, de acordo
com algum tema comum, “mais recentemente o sentido acentua a natureza
proposital da seleção...” (BAUER; AARTS, 2015, p.45). A noção de Corpus teórico pode ser usada tanto em
pesquisas lingüísticas, sociais e nas humanidades em geral, como é caso deste artigo
(BAUER; AARTS, 2015). Aqui o método foi desenvolvido fazendo a escolha de
determinadas obras de Tillich, Weil e alguns outros autores, relativas ao tema
abordado, assistematicamente.
A análise dos dados coletados foi realizada tendo
como base a Metalogia, ou “Análise Metalógica” (TILLICH, 2009; HIGUET, 2011), que
é método crítico-intuitivo desenvolvido por Tillich para discutir temas
pertinentes à Filosofia da Religião. Tal método sofre influências da Teoria
Crítica, com ênfase na história, na política e no juízo quanto à realidade, mas
também do modelo intuitivo de análise fenomenológica, transcendendo-os e dirigindo-se
à superação de reflexões meramente formais, propondo uma compreensão
substancial das questões.
Para o filósofo alemão, “a
religião é a orientação para o incondicional e a cultura é a orientação para as
formas condicionais e sua unidade” (TILLICH, 1973, p.320). Dessa forma, enquanto
a religião lida com o Sagrado e a Realidade Última, a cultura lida somente com
elementos simbólicos, não podendo apresentar a função religiosa na sua pureza
(HIGUET, 2011). Por isso, o autor optou por um método que incorporasse a
metafísica, a intuição, e o sentimento religioso em suas possibilidades
analíticas e argumentativas, abandonando a Teoria Crítica e suas limitações
metodológicas.
3
Análise e discussão
Considerou-se primeiramente
o pensamento de Paul Tillich sobre o Marxismo, apresentando suas discussões e
conclusões, e, posteriormente, a análise, discussão e conclusões de Simone Weil
sobre o pensamento de Karl Marx a respeito das questões sociais.
3.1 A Crítica de Paul Tillich ao
Marxismo: uma religião demônica
Paul Tillich foi um importante teólogo e filósofo
protestante alemão do Século XX. Assim como Benjamin, foi membro da Escola de
Frankfurt, sendo um dos principais protagonistas da Teologia Existencial, o criador
do Método Teológico da Correlação (GIBELINI, 2007) e da Análise Metalógica em
Filosofia da Religião (HIGUET, 2011). De tendência liberal, foi considerando
integrante do movimento Neo-Ortodoxo, comum na primeira metade do século
passado, juntamente com Karl Barth, Rudolf Bultmann e Dietrich Bonhoeffer,
entre outros (GIBELINI, 2007). Ele foi profundamente influenciado pelo teólogo
alemão Friedrich Schleiermacher, pelo filósofo alemão Frederich Schelling, bem
como pelo filósofo/teólogo dinamarquês Soren Kierkegaard, cujas idéias permeiam
suas obras (TILLICH, 2005).
Analisando
o Marxismo, Tillich afirma que:
Certamente,
o movimento marxista é quase religioso. Eu não diria pseudo-religioso, pois
pseudo significa enganoso ou mentiroso. Mas é quase-religioso porque conserva
em seu interior a estrutura do profetismo, embora com a perda da linha vertical
e transcendente. (TILLICH, 2010, p.181)
O teólogo alemão percebeu facilmente que o aspecto “profético”
presente no Marxismo é algo comum ao fenômeno religioso, especialmente
judaico-cristão, capaz de denunciar a realidade vigente e anunciar um novo
mundo (TILLICH, 2010). Por este motivo, Tillich se mostrou inúmeras vezes um
apreciador das idéias revolucionárias marxistas, sendo capaz de afirmar em
determinado momento de sua vida acadêmica que Marx foi o grande teólogo da
modernidade (TILLICH, 2010). Na visão tillichiana, o Marxismo é dotado dessa mensagem
“profética” marcada por certo criticismo para com a realidade, embora como ele
mesmo afirmou, destituída de transcendência, de uma esperança escatológica. Ou
seja, a ideologia criada por Marx é um “profetismo” que anuncia uma esperança temporal,
prisioneira deste mundo, limitada pelo tempo, pelo espaço e pela condição
humana (TILLICH, 2010).
Isso se
dá, segundo Higuet, porque...
o
método crítico alcança apenas um elemento da consciência do sentido, a forma do
sentido e deixa de lado o outro elemento, o conteúdo substancial do sentido,
desprezando assim o fundamento real pressuposto em todas as formas e sentidos.
Ora, a unidade das formas e de toda forma particular, sem a relação ao conteúdo
substancial, é completamente vazia (HIGUET, 2011, p.32).
Entretanto, Tillich apresenta outros elementos religiosos
comuns ao Marxismo, além do “profetismo”. Segundo ele, no pensamento de Marx o
Estado é percebido como uma espécie de incondicional (Sagrado), que faz parte da
sua prática marxista os cultos às personalidades (idolatria) e que há em sua
teoria certo aspecto messiânico (soteriológico), onde o proletariado assume o
lugar do Messias judaico-cristão. Aliás, isto é asseverado claramente, quando Tillich
propõe que no pensamento marxiano “o proletariado tem poder salvador por causa
desse papel revolucionário” (TILLICH, 2010. p.180). O estranho para aquele que
faz uma análise filosófico-religiosa do Marxismo é estas idéias religiosas estarem
presentes no pensamento de um ateu que constrói seu método a partir do
historicismo crítico, para o qual não há uma realidade acima de todas as
realidades (TILLICH, 2010). O Marxismo se “mostra (...) incapaz de apreender
conceitos que irrompem através de todas as formas, como graça, revelação e demonia. Sozinho ele é inadequado para
tratar de religião” (TILLICH, 1973, p.306). Na verdade, Marx usou idéias
religiosas com finalidade política, mas para isso teve que despi-las de sua
transcendência, atemporalidade e trans-historicidade.
Tillich sabia muito bem que Marx defendia o caráter
utópico no Socialismo, marcado pela presença da idéia poderosa da esperança, algo
tão comum à religiosidade em geral, mas que para o pai do socialismo - dito
científico - assume uma perspectiva de plenitude social imanente, mundana,
através do Comunismo. O filósofo de Halle também comentou sobre a ética
socialista, que à principio se mostrou muito semelhante à ética religiosa
cristã, tomando com o passar do tempo um direcionamento bastante pragmático e
teleológico, portanto, desassemelhando-se posteriormente dos axiomas cristão (TILLICH, 2010). Esse é outro elemento
estranho ao pensamento crítico, pois não é próprio para discussões de questões
ligadas ao etos, aos valores, estando
muito mais próxima das Ciências do Espírito (HIGUET, 2011).
Por tais motivos, o Marxismo seria tillichianamente uma
espécie de religião demônica, pois se dedicaria a um objeto inferior àquilo que
é verdadeiramente incondicional[2],
mirando no que é finito, criado e profano (TILLICH, 2010). Além disso,
desenvolveria uma prática que, embora aparentemente humanizadora, libertadora e
igualitária, fomentaria ações opressoras, destrutivas e aniquiladoras, já que para
o Marxismo os fins justificam os meios (WEIL, 2001). Tillich percebe esse elemento
paradoxal e ambíguo no Marxismo e o aponta como negativo e passível de crítica
(TILLICH, 2010) a partir da Filosofia da Religião, especialmente da análise
metalógica.
Martins (2004) apresenta de forma
muita clara o que é demônico para Tillich, ajudando bastante sua compreensão:
Tillich
procura distinguir entre a relação do demônico e do profano com o divino. O
demônico não resiste à auto-transcendência como o profano, mas distorce a
auto-transcendência identificando um portador particular de santidade com o
próprio sagrado. Nesse sentido, todos os deuses politeístas seriam demoníacos,
porque a base de ser e sentido sobre o qual eles se apóiam é finita, não
importando quão sublime, ampla ou dignificada ela possa ser. E a reivindicação
de algo finito querer ser infinito ou de aspirar à grandeza divina é a
característica do demoníaco. Demonização do sagrado ocorre em todas as
religiões, dia após dia, mesmo naquela religião que se baseia na auto-negação
do finito na cruz do Cristo. A procura da vida sem-ambigüidade (Sic) é,
conseqüentemente, apontada mais radicalmente contra a ambigüidade do sagrado e
demoníaco no reino religioso (MARTINS, 2004, p.174).
A perspectiva tillichiana de Deus o apresenta como o
Divino, o Sagrado, o Ser-em-Si, ligado à idéia da Realidade Última e
Incondicional (TILLICH, 2005). Sendo assim, tudo a que é dado valor
incondicional e não é efetivamente o incondicional ocupa o lugar de Deus e se
torna, por isso, demônico (TILLICH, 2002). Desta forma, o Ultimate Concern[3]
é aquele que transcende a condição humana, indo em direção à Preocupação
Última, trazendo significação e sentido, sendo relativo à esfera religiosa, acessível
somente através da fé, ou seja, do ato de ser possuído pelo Incondicional
(TILLICH, 2002). Dessa forma, pode-se afirmar que o Marxismo é um sistema vazio
e sem significação última, sendo, portanto, meio e não fim!
Na visão do teólogo de Halle todos os homens vivem
em busca de uma Realidade Última e Incondicional, mesmo que inconscientemente
(HIGUET, 2011). Para uns, tal realidade poderia ser, equivocadamente, um deus,
para outros, seriam, imprecisamente, os deuses, o estado, o capital, etc.. Com
essa compreensão Tillich relativiza a noção comum do Ateísmo – apresentando-o
através de religiões seculares ateístas - e possibilita que, tanto o
Capitalismo, cujo incondicional é o Capital, quanto o Socialismo, cujo incondicional
é o Estado, sejam percebidos como ideologias idólatras ou demônicas. Em sua
visão, todo culto prestado a algo criado, que não seja auto-existente, e que
seja menor do que Deus é idolatria, isto é, culto dedicado ao eidolon ou ao daimonia (TILLICH,
2002).
O próprio Benjamin percebeu esse elemento demônico
no Marxismo, ao dizer que, também para Marx, “o Capitalismo impenitente se
converte em Socialismo com juros e juros sobre juros, que, como tais, são
função da culpa (ver ambiguidade demoníaca[4]
desse conceito)” (BENJAMIN, 2013, p.23). Ou seja, o Marxismo, na ótica
benjaminiana, seria a forma da sociedade expurgar ou pagar pelos pecados
praticados por causa da usura capitalista, o que denota uma expressão religiosa
punitiva, vingativa, coercitiva e opressora, ao invés de libertadora,
emancipadora e repleta de graça, como anuncia o Evangelho de Jesus Cristo (BIBLIA
SAGRADA ALMEIDA SÉCULO 21, 2013), ao assegurar: “sendo justificados
gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3:24) e
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de
Deus” (Ef 2:8). Não... na verdade, a religião marxista anuncia uma “salvação”
advinda do sofrimento humano, do expurgo da culpa promovido pelo Socialismo.
Para Tillcih, entretanto, “O
movimento marxista não foi capaz de fazer autocrítica por causa da estrutura em
que caiu, transformando-se no que chamamos de Stalinismo” (TILLICH, 2010, p.182).
Ele ainda diz que “faltou a Marx uma crítica vertical[5]
contra si mesmo” (TILLICH, 2010, p.178). Por isso, o “profetismo” secularizado apregoado
por Karl Marx se diferencia essencialmente do profetismo bíblico e teísta tão
propagado no Antigo Testamento e consumado no Novo Testamento (TILLICH, 2010;
HIGUET, 2011).
Certamente, as maiores críticas
que se pode fazer hodiernamente ao Marxismo são: a falta de concretude
histórica da realização de seu projeto (crítica histórica), a incapacidade de
autocrítica, devido ao seu aspecto radical, totalitário e dogmático (crítica
filosófica), sua perspectiva pseudocientífica e dogmática (crítica
epistemológica), bem como sua manifestação religiosa, ou para-religiosa
secularizada, negativa e desgraçada (crítica da Filosofia da Religião e da
Teologia), isto é, sem a manifestação da Graça de Deus, que concede a salvação através
de Cristo, como uma dádiva imerecida[6]
(VERBRUGGE, 2018).
3.2 A Crítica de Simone Weil ao
Marxismo: uma pseudociência dogmática
Simone Weil foi uma filósofa
francesa de origem judaica que desenvolveu uma profícua carreira como
escritora. Foi discípula do filósofo francês conhecido como Alain, pseudônimo de Émile-Auguste Chartier
(1868-1951), professor de filosofia que marcou indelevelmente diversos
intelectuais franceses que foram seus alunos antes de ingressarem nas grandes
Escolas ou na Sorbonne (PUENTE, 2020). Se
interessou em pesquisar e discutir a realidade do trabalhador no sistema
Capitalista, marcadamente das trabalhadoras francesas, demonstrando certa
apreciação à princípio pelas idéias socialistas, especialmente marxistas.
Diante das contradições de seu contexto e de diversas crises pessoais,
entretanto, experimentando profundo sofrimento existencial no contexto da Segunda
Grande Guerra, exilou-se na Inglaterra por causa dos totalitarismos
continentais europeus e aproximou-se de Cristo, do Cristianismo e da Igreja
Católica Romana (CARVALHO; FACHIN, 2009.). Tal experiência a levou a
reconsiderar sua postura ideológica e, a partir de então, passou a formular críticas
contundentes a Karl Marx e ao Marxismo, apresentando o último como dúbio e
falseável (SUÁREZ, 2013; POPPER, 2006).
É
inegável que o Marxismo possui uma teoria com aspectos chamativos, assumindo
muitas vezes uma aparência científica - embora não o sendo, como afirma Weil (1955).
É perceptível que o sistema de pensamento
marxista
converteu-se em verdade absoluta, mesmo sem comprovação factual e experimental.
Vários dos enunciados marxianos são apriorísticos, não provados por aquilo que
se considera efetivamente ciência, tornando-o uma pseudociência e aproximando-o
do elemento religioso (WEIL, 1955). Weil afirmou certa vez: “há contradição,
contradição gritante, entre o método de análise de Marx e suas conclusões. Não
é de se estranhar: ele elaborou as conclusões antes que o método” (WEIL, 1955.
p.195). Sobre esta questão, a própria Weil cogitou que...
O
socialismo dito científico criado por Marx passou à condição de dogma, como,
aliás, todos os resultados estabelecidos pela ciência moderna, e se aceitam de uma vez por todas as
conclusões sem jamais se perguntar sobre os métodos e as demonstrações.
Preferimos acreditar que Marx demonstrou a constituição futura e próxima de uma
sociedade socialista, antes de procurar em suas obras se podemos encontrar
mesmo a menor tentativa de demonstração (WEIL,
1955, p.185).
É
verdade: as idéias marxistas nem sempre demonstram realidades, mas ordinariamente
tentam construí-las, devido à sua ênfase praxística, projetando-as e
efetivizando-as geralmente de forma bastante radical e violenta. Por se tornar sinônimo de mudança, de
alteração da ordem e de “aperfeiçoamento”, com o tempo, o Marxismo resultou na
ideologia predileta de uma casta de revolucionários e intelectuais
inconformados. Como bem afirmou Edmund Wilson: “o Marxismo é o ópio dos intelectuais”
(WILSON, 2004, p.340), tese com a qual o filósofo Raymond Aron concordou interiamente
(ARON, 2016), fazendo um trocadilho com a famosa crítica de Marx: “a religião é
o ópio do povo” (MARX, 2007, p.146).
Onde
a ideologia marxista foi implantada e onde o seu projeto se tornou prático houve
a perda da dita beleza teórica das idéias e o afastamento do caráter “científico”
e utópico do movimento, tornando o projeto marxista uma realidade distópica[7]
e caótica. Genocídios e etnocídios foram cometidos em seu nome, fazendo-a
assumir “formas condicionadas” (HIGUET, 2011, p.35). Fala-se de mais de 100
milhões de pessoas mortas nas revoluções socialistas pelo mundo no Século XX (COURTOIS
et al., 2019).
Foi a contemporânea de Simone Weil, a
alemã Hannah Arendt (2006), um dos que denunciaram esse tipo de totalitarismo distópico
na primeira metade do Século XX. Ao abordar o tema da violência comum em tais
movimentos, afirmou:
A
violência é, por natureza, instrumental; como todos os meios sempre precisam de
um guia e uma justificação até lograr o fim que persegue. E o que precisa de justificação por algo, não pode ser a essência
de nada (ARENDT, 2006, p.70).
Sociedades inteiras foram
trucidadas em revoluções que aconteceram em nome de uma pseudo-utopia
irrealizável intramundanamente. Por onde este rolo-compressor - o Marxismo -
passou não foi permitida a existência de nada que lhe opusesse. A destruição, a
vergonha, a opressão e a morte (aos milhões) foram justificadas por um projeto
desumano, necrófilo[8] (FROMM, 1992), e por que não dizer efetivamente
demônico. Nesse sentido, o Marxismo implantado em vários países, negou
contraditoriamente a dialética, que é seu fundamento filosófico, ao promover a
supressão da tensão interna inerente a ela - a antítese, a crítica - sendo a
censura e o ostracismo suas marcas registradas (TILLICH, 2010). Com isso, é
inevitável a afirmação: o Marxismo abandonou a dinâmica, o movimento, e tornou
estático, dogmatizando-se e afirmando-se como absoluto.
Além disso, o Marxismo é
extremamente crítico com a estrutura social e com os sistemas de pensamento
contrários, por ser baseado em uma filosofia crítica. Considera burguês,
alienado, reacionário e economicamente opressor o Capitalismo/Liberalismo, por
manter intocada certa estrutura social (burgueses e proletários). Apesar de tão
crítico, devido à sua estrutura rígida e dogmática, e à doutrinação
metanarrativa que se tornou comum em sua prática, o Marxismo não conseguiu
formular uma crítica relevante de si mesmo desde que foi criado. Todos os
grandes teóricos[9]
que desenvolveram a doutrina marxista com Karl Marx, e depois dele, foram tão dogmáticos,
imperativos, prepotentes e jactanciosos quanto ele, reforçando o caráter
religioso negativo do movimento e pseudocientífico, por ser profundamente
categórico e absoluto. Tal constatação suscita hoje descrença e desconfiança em
relação à sua teoria, principalmente quando se leva em consideração uma
reflexão mais filosófica, do que propriamente sociológica ou econômica.
Apesar disso, o pensamento
marxista continua sendo percebido pelos membros da Esquerda através dos anos como
absoluto e inquestionável, e talvez seja essa hybris[10]
a sua maior fraqueza, como diria Tillich, ao comentar e criticar o pensamento
hegeliano (TILLICH, 2010), que é a base filosófica sobre a qual se constrói a
teoria marxista. Assim, como para Hegel “essa hybris ocasionou a
tragédia para o seu sistema” (TILLICH, 2010, p.123), o mesmo se pode dizer de
Marx, ao tentar fazer de seu pensamento um sistema capaz de compreender e mudar
o mundo (MARX, 2007), através de uma razão crítico-revolucionária (TILLICH,
2010). O que as idéias de Marx efetivamente conseguiram, entretanto, foi um
reducionismo político e limitante da realidade, a divisão radical dos grupos
sociais, fortalecendo os antagonismos, e a destruição dos opositores às suas
idéias e projeto revolucionário.
O Marxismo tentou ser um sistema
de pensamento tão poderoso e grandioso, que evidenciou aí a sua grande
debilidade: não permitiu o surgimento de antíteses, o vir-a-ser comum a um
sistema de pensamento baseado no movimento, como o é a Dialética. Sobre isso,
Orwell afirmou:
A ditadura do proletariado só poderia ser uma
ditadura de um punhado de intelectuais, reinando por meio do terrorismo [...] Naquela posição, os comunistas russos
transformaram-se necessariamente numa casta governante permanente ou numa
oligarquia, recrutada não pelo nascimento, mas por adoção. Uma vez que não podiam arriscar o crescimento da
oposição, não podiam permitir a crítica genuína e, uma vez que a silenciavam,
frequentemente cometiam erros evitáveis; então, por não poderem admitir que
aqueles erros eram seus, tinham que arranjar bodes expiatórios, às vezes em
enorme escala”. (ORWELL, 2006, p.100).
Esta é a filosofia política seguida por milhões,
talvez bilhões de pessoas em todo o mundo em pleno Século XXI. Um sistema capaz
de tudo para conseguir o poder e se manter no controle dele, como muitos
revolucionários socialistas afirmaram e fizeram história afora. Um sistema que
acredita que a destruição, a morte e o não-ser fazem parte do processo de
construção de uma utopia, na transformação da realidade no melhor dos mundos
possível (LEIBINIZ, 1991), e até na edificação de uma Nova Babel (IL PEDANTE, 2021). Mas, amar o poder
pode ser um grande problema por produzir a desumanização da sociedade, o caos e
as distopias. Por isso, Tillich afirma que ao invés de amar o poder é preciso
ter o poder de amar (TILLICH, 2004), afinal o poder pelo poder corrompe irrestritamente.
Por tudo isso, como disse Weil, o Marxismo não passa
de um dogma (WEIL, 1955), e como todo dogma, é inquestionável e radical. Ele é
completamente uma religião (WEIL, 2001), embora uma manifestação religiosa
secular e sem transcêndência. Uma religião intransigente, severa, autoritária, implacável
e extremamente dogmática. Numa discussão de caráter epistemológico, Weil (1955)
pondera que o Marxismo se tornou uma pseudociência, marcada por a prioris, dogmas e idéias
inquestionáveis.
4 Considerações finais
Ao longo da história, o Marxismo se mostrou tão imperativo,
presunçoso e fechado quanto qualquer pensamento religioso ultraconservador ou
fundamentalista, recusando toda e qualquer possibilidade de diálogo, de crítica,
e exigindo, em contrapartida dos seus adeptos o que os teólogos chamam de “fé”,
ou seja, o ato de ser possuído pelo incondicional (TILLICH, 2002). Na verdade, o
sistema marxista é pseudo-incondicional, pois manifesta somente a sombra do verdadeiro
Incondicional, capaz de trazer significado e sentido último à existência humana.
A crítica desse artigo ao Socialismo marxista, portanto, aponta para o fato
dele ser uma expressão religiosa secular, demônica e de tendência bastante dogmática,
radical e violenta, como disseram Weil (2001) e Tillich (2010).
Corroborando com o que foi apontado
até aqui sobre o elemento religioso demônico e pseudo-religioso do Marxismo, apresenta-se
aos leitores a famosa Oração do Delegado
(uma prática essencialmente religiosa) rezada ao ditador socialista venezuelano
falecido Hugo Chávez no Teatro Caracas em plena capital venezuelana, pelos
membros do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), no
dia 28 de agosto de 2014. A oração diz assim:
Chávez nuestro que estás en el
cielo, en la tierra, en el mar y en nosotros, los y las delegadas. Santificado seja tu
nombre. Venga a nosotros tu legado para llevarlo a los pueblos de aquí y de
Allá. Danos tu luz para que nos guíe
cada dia. No nos dejes caer en la tentación del capitalismo. Mas líbranos de la
maldad y de la oligarquía ("como del delito del contrabando"). Porque de nosotros y nosotras es la patria,
la paz y la vida. ¡Por los siglos de los siglos, amén! ¡Viva Chávez! (ESTADO DE
MINAS, 2014)
Finaliza-se este artigo com outra “oração”: que o Deus Todo-Poderoso, Pai do Senhor Jesus
Cristo, Aquele que pertencente efetivamente a esfera do Incondicional, guarde a
humanidade desta religião demônica, e livre os intelectuais (e também os meros
mortais) dessa pseudociência dogmática, necrófila e opiácea. Amém!
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[1] Mestre em Ciências do Ambiente
pelo PPGCIAMB–UFT-TO; Pós-Graduado
em Telemática pelo IFTO–TO;
Pós-Graduado em Docência do Ensino Superior pelo ITOP-TO e Graduado em Teologia
pela FTSA-PR e pelo STBNB-PE. Professor de Teologia
Contemporânea,
História do Pensamento Cristão, História do Cristianismo e Filosofia no STBT,
STBG e SETA, em Palmas – TO. Membro
da Igreja Batista Filadélfia, em Palmas – TO. Endereço eletrônico: diowalbr@gmail.com.
[2] O Incondicional para Tillich é o Sagrado, o Ser-Em-Si, o Numinoso, o Incriado, o Ser Necessário, em alemão o Das Umbedingte, algo próximo do que Agostinho ou Tomás de Aquino compreendiam acerca de Deus (TILLICH, 2005).
[3] O Ultimate Concern é Aquilo que nos toca incondicionalmente,
sendo, portanto, a Preocupação
Última que torna tudo o
mais insignificante, mínimo e fugaz (TILLICH, 2002).
[4] A observação entre parênteses é
feita pelo próprio Walter Benjamin, estando no original do documento escrito
em alemão
(BENJAMIN, 2013).
[5] Por crítica vertical, Tillich entende a
presença do elemento transcendente em meio à crítica, que no pensamento marxista
está completamente ausente, devido ao seu caráter imanente, histórico e temporal (TILLICH, 2010).
[6] Sobre a
salvação, o apóstolo Paulo afirmou categoricamente em Efésios 2:8: “Porque pela
graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus;” (BIBLIA SAGRADA
ALMEIDA SÉCULO 21, 2013).
[7] Distopia, cacotopia ou antiutopia é qualquer
representação ou descrição social, política e econômica,
cujo valor representa a antítese da utopia, ou
promove a vivência em uma utopia negativa, marcada pelo caos, pela opressão e
pelo sofrimento (JACOBY, 2007).
[8] Necrofilia é uma expressão usada por Erich Fromm para designar a postura
destinada à destruição, à morte e ao aniquilamento do outro, comum em
determinadas ideologias, movimentos e em alguns tipos de pessoas, em especial,
os líderes totalitários da primeira metade do Século XX, como Adolf Hitler, e outros (FROMM, 1992).
[9] Alguns teóricos marxistas foram: Friedrich Engels,
Vladimir Lenin, Rosa Luxemburgo, Georg Lukács, Karl Korsch, George Plekhanov,
Benedetto Croce, Hebert Marcuse, Antonio Gramsci, etc. (DORTIER, 2010).
[10] Segundo Tillich, hybris é uma palavra grega que pode ser
traduzida por orgulho, vaidade, noção de grandeza, mas também como “elevação ao
estado divino”. Era muito comum na tragédia grega, onde os heróis traziam para
si a hybris, mas logo eram
desmascarados pelos verdadeiros poderes divinos (TILLICH, 2010).
REFERÊNCIA: MAGALHÃES, Diogo Souza. Diálogos com Paul Tillich e Simone Weil: uma crítica filosófica cristã ao Marxismo. Revista Teológica Jonathan Edwards, vol. II, nº 2, 2002 (ISSN - 27-63-8561). Disponível em: https://www.stjedwards.com/revista. Acesso em: 16 jul. 2022.
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