PREGAÇÃO E PÓS-MODERNIDADE: DESAFIOS, RELEVÂNCIA
E EFICIÊNCIA DA PROCLAMAÇÃO CRISTÃ CONTEMPORÂNEA
Diogo Souza Magalhães1
RESUMO
Verifica e constata a realidade do mundo pós-moderno, suas características, tendências e
desafios, inserindo a igreja cristã numa conjuntura de constantes mutações, relativismos,
indefinições e desconstruções. Relaciona os efeitos das mudanças gerais produzidas pela crise
da modernidade na vida da igreja evangélica brasileira, destacando especialmente a situação da
pregação da Palavra de Deus. Analisa os efeitos da atual conjuntura social sobre a vida
eclesiástica, o culto cristão e, especialmente, a proclamação bíblica, destacando seus efeitos
positivos e negativos. Demonstra que a relevância e a eficiência da pregação bíblica estão
relacionadas ao equilíbrio entre a fidelidade escriturística e a sensibilidade para com a realidade
do mundo, e que nesse sentido, a igreja precisa desenvolver seu discurso fundamentado nas
Escrituras, usando entretanto, de todos os recursos e criatividade necessários para aplicá-la
concretamente à vida dos seus ouvintes. Conclui que os cuidados especiais com o tempo de
duração, o lugar da pregação no culto, a ênfase bíblica da mensagem, bem como os elementos
do conteúdo e da forma de apresentação da prédica contemporânea, se bem adequados, podem
favorecer o alcance da pregação, resgatando sua relevância e eficiência na chamada
Modernidade Líquida.
PALAVRAS-CHAVE: Pós-Modernidade, Igreja Brasileira, Teologia, Comunicação,
Homilética.
PREACHING AND POST-MODERNITY: CHALLENGES FOR THE RELEVANCE
AND EFFECTIVENESS OF CONTEMPORARY CHRISTIAN PREACHING
ABSTRACT
This study involves an assessment of the reality of the post-modern world, with attention to its
characteristics, tendencies and challenges, injecting the Christian church into the conjuncture of
constant transitions, contingencies, uncertainties and reconstructions. Consideration is given
to the effects and changes which the crises of modern life have produced within evangelical
churches of Brazil, with particular emphasis on the realities of contemporary Biblical
preaching. Analysis is given of the impacts of present-day social patterns on church life, on
Christian worship and especially on Biblical proclamation, examining both positive and
negative effects. Evidence is examined suggesting that the relevance and effectiveness of
Biblical preaching involves an equilibrium between scriptural fidelity and sensitivity to the
realities of the world, demonstrating that the Christian church must maintain its discourse
founded upon the Scriptures but must also take care to use all the resources and creativity
necessary to apply that concretely to the lives of the listeners. Conclusions focus on the
importance of special attention to the duration of the preaching, selection of the appropriate
preaching moment within the worship service, clarity of the Biblical message, and also
attention to the elements of content and form in contemporary preaching, recognizing that
when these aspects are handled well, it is conducive to the desired results of the sermon,
rescuing its relevancy and effectiveness from the malaise of modernity.
KEYWORDS: Post-modernity, Brasilian Church, Theology, Communication, Homiletics.
Introdução
É indiscutível o valor da pregação na História da Igreja Cristã, desde o seu período
incipiente até os dias atuais. A prédica era tão relevante para a comunidade primitiva, que o
apóstolo Paulo, o grande líder da igreja gentílica, chegou a afirmar: “... foi do agrado de Deus
salvar os que crêem por meio do absurdo da pregação” (1 Co 1: 21b), e noutro momento
disse: “portanto, a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo.” (Rm 10:17).
Não foi diferente ao longo dos mais de dois mil anos de história cristã, onde a
proclamação da Palavra de Deus foi vista geralmente como central, proporcionando edificação,
norteamento e saúde à igreja e à sua missão, principalmente, quando realizada eficientemente
(Robinson & Larson, 2009, p.78). Mesmo que, apresentada por tipos diversos e através de
formas diferentes, como cita Quicke, sejam os pregadores mestres, os pregadores mensageiros,
os indutivos ou os narrativos (ibid, p.74), a comunicação do Evangelho trouxe grande
vitalidade espiritual e apresentou sua profunda relevância ao mundo, em diversas épocas,
trazendo salvação e transformação. Por outro lado, afirma Stott, citando o Dr. Lloyd-Jones,
“as eras decadentes da história da igreja foram aquelas em que a pregação decaiu” (Ibid, p.32).
Não há verdadeira vitalidade eclesiástica sem a pregação da Palavra de Deus, pois “onde não
há profecia, o povo se corrompe...” (Pv 29:18a).
Apesar da grande transição e desconstrução histórica de caráter niilista por que passa a
humanidade no momento atual, influenciando a estrutura eclesiástica – sim, porque a história
eclesiástica, a “História da Salvação” (Heilsgeschichte), se entrelaça e é entrelaçada
continuamente à história secular (Historie) – continua a ser inegável o valor do anúncio do
Evangelho ainda hoje, especialmente no que tange aos propósitos divinos de salvar a
humanidade do processo de alienação e autodestruição produzido pelo pecado.
Segundo Lyotard, importante filósofo francês contemporâneo, na Pós-modernidade,
momento histórico experimentado hoje no Ocidente, “...o que está em questão não é a
verdade, mas a eficiência ...” (1986, p.83). Isto é o que ele chama de “Lógica do Desempenho”
(ibid, p. xvii), ou seja, o homem atual não está preocupado tanto com a verdade das coisas,
mas com a performance delas, em como podem ser usadas da melhor forma possível, a fim de
se alcançar os objetivos prefixados, gerando resultados satisfatórios. Esta é uma das principais
contradições intrínsecas ao Pós-modernismo: o paradoxo verdade x eficiência dos resultados.
É inegável a influência do Taylorismo em tais afirmações. Embora não seja
interessante aqui negar a busca pela verdade, que não é uma característica eminentemente
moderna, é imprescindível que se questione a eficiência e desempenho do ser e das coisas, o
que é uma característica pós-moderna.
Nesse trabalho o autor pretende responder aos seguintes problemas: com as
transformações ocorridas no mundo no contexto da Pós-modernidade e, consequentemente, na
estrutura funcional da igreja evangélica contemporânea no Brasil, quais os principais desafios
que se apresentam? E como a igreja pode tornar o seu discurso, a proclamação da Palavra de
Deus, relevante e eficiente num mundo em constante mutação?
Para tanto, é considerada aprioristicamente a afirmação de que a prédica na Pósmodernidade
precisa ser fundamentada na Palavra de Deus, tratada como fundamental na vida
da igreja, com relevância comprovada, e deve também contextualizar-se, especialmente quanto
à forma, sendo desafiada pelas necessidades e transformações de um mundo em constante
mutação. Assim, será eficiente em sua tarefa espiritual de apresentar Deus ao ser humano,
tornando-o conhecido através do seu caráter, dos seus propósitos e da sua graça.
A pesquisa aponta para o fato de que a relevância e a eficiência da pregação se
encontram na correlação entre a fidelidade ao conteúdo bíblico e a sensibilidade às
necessidades do mundo atual. Stott afirma que...
nós não devemos nem falsificar a palavra a fim de obter uma pretensa relevância nem
devemos ignorar o mundo moderno a fim de obter uma pretensa fidelidade. É a
combinação de fidelidade com sensibilidade que cria o expositor autêntico.
(Robinson & Larson, op. cit., p.30).
Em recente artigo, Coelho Filho chega também à conclusão de que não há como a
pregação ser relevante sem um biblicismo profundo de um lado e sensibilidade para com o
mundo contemporâneo de outro (2011, p.12). Para ser relevante é preciso dizer o que o povo
precisa ouvir, não o que ele quer ouvir, ou o que o pregador gostaria de dizer (Ibid, p.13).
Uma outra questão significativa é a distinção entre relevância e atualidade, ou
contemporaneidade. Coelho Filho afirma que “há pregadores atualizados e bem informados,
mas irrelevantes. Big Brother é contemporâneo, porém, irrelevante” (Ibid., p.12). A
comparação parece infeliz, mas pode se tornar verdadeira: corre-se o risco de ter púlpitos tão
irrelevantes quanto uma das piores programações da televisão brasileira!
O procedimento que permitirá alcançar os objetivos dessa pesquisa será a análise e a
avaliação do modelo e da estrutura da pregação cristã nas últimas décadas, a partir de
conceituações, caracterizações e relações quanto ao seu tempo de duração, seu conteúdo e sua
forma de apresentação, procurando reforçar com coerência o que tem dado certo e apresentar
novas possibilidades àquilo que tem ficado a desejar.
1. O Tempo, o lugar e a ênfase da pregação pós-moderna
Como Pós-modernismo compreendem-se “as mudanças ocorridas nas ciências, nas
artes e nas sociedades avançadas desde 1950, quando, por convenção, se encerra o
Modernismo... sendo que ninguém sabe se é decadência ou renascimento cultural” (Santos,
1988, p.7). Segundo Anderson, Pós-modernidade foi um conceito criado pelo escritor
hispânico Frederico de Onís, amigo do filósofo Miguel de Unamuno, e desenvolvido
posteriormente pelo historiador inglês Arnold Toynbee (1999, p.11). A idéia de Pósmodernidade,
segundo Roldán, está vinculada a “uma crítica ao poder da razão para explicar
toda a realidade. Representa um questionamento aos discursos totalizadores, radicais,
interpretadores do ser humano, do mundo e da realidade.” (Kohl & Barro, 2006, p. 250) .
Embora seja tema constante de estudos, debates e livros desde a década passada, é
difícil falar de Pós-modernidade, principalmente devido à relatividade e multiplicidade de
opiniões a seu respeito. Por exemplo, Siepierski questiona se “Pós-modernidade seria uma
outra fase da Modernidade, ou se uma ruptura entre Modernidade e Pós-modernidade e, então,
esta última representaria uma suplantação da primeira” (Maraschin, 1992, p.173). Bauman, por
outro lado, vai além do conceito de Pós-Modernidade, criando uma nova terminologia,
chamando este momento de profundo mal-estar histórico ocidental de “Modernidade Líquida”,
apontando em especial para os aspectos fluido, relativista e plural que marcam a Crise da
Modernidade (2001). A verdade é que esse é um tema polêmico, contraditório e ainda
indefinido, e, talvez por esse motivo, tão interessante e convidativo à reflexão.
Mesmo com as indefinições sobre o tema, algumas características da Pósmodernidade
já são elencadas pelos teóricos. Roldán apresenta especialmente o pluralismo, o
relativismo e a fragmentação como elementos marcadamente pós-modernos (Kohl & Barro,
op. cit., p. 251). Sayão, diferentemente, fala do subjetivismo, da diversidade, e do cinismo
como características contemporâneas (2001). Amorese, por outro lado, apresenta a
pluralização, a privatização e a secularização como elementos centrais para o entendimento
deste tempo (2000). Na verdade, a Pós-modernidade vai além de tudo isso.
MacQuilkin, em texto recente onde aproxima a discussão entre Pós-modernidade e
pregação, afirma que nesta relação há elementos a serem adotados, adaptados e confrontados
pelos pregadores, ressaltando o aspecto dialógico como fundamental (Robinson & Larson, op.
cit., p. 210). Os elementos a serem adotados são: a superioridade da espiritualidade, a
autenticidade como virtude, o valor da experiência, dos sentimentos e dos relacionamentos, e a
urgência da esperança. Os elementos a serem adaptados são: o cuidado com o antiintelectualismo,
a celebração da diversidade, o valor das narrativas históricas, da realização
pessoal e da liberdade individual, e a suspeita da autoridade. Os elementos a serem
confrontados são: o relativismo absoluto, o auto-sacrifício como anti-valor e a estupidez do
compromisso. (ibid, p.210). Hoje, mais do que nunca, se torna importante a máxima bíblica
que diz: “mas, examinando tudo, conservai o que é bom. Evitai tudo o que é mau.” (1Ts
5:21,22).
Por outro lado, a pregação é conceituada por Koller, como “aquele processo único
pelo qual Deus, mediante seu mensageiro escolhido, se introduz na família humana e coloca
pessoas perante si, face a face” (Moraes, 2000, p.68), argumentando sobre o elemento
confrontador da pregação. Ressaltando o aspecto cristocêntrico, Manning, afirma que a
pregação é “a manifestação do Verbo Encarnado, desde o Verbo escrito, pelo Verbo falado”
(ibid, p.67). Lloyd-Jones, outro grande pregador, vê a pregação como “teologia em chamas; é
teologia que extravasa de um homem que está em chamas” (ibid, p.67), o que aproxima a
teologia e a pregação do profundo amor pelas almas perdidas. Por fim, Stott afirma que
pregação é a exposição das Escrituras e que ela visa “esclarecer o texto inspirado com tal
fidelidade e sensibilidade que a voz de Deus seja ouvida e seu povo lhe obedeça” (Robinson &
Larson, op. cit., p.27).
Segundo vimos, a comunicação oral e sistemática da Palavra de Deus é, sem dúvida, a
forma escolhida por Ele em todos os tempos, embora não a única, para se revelar aos homens e
se comunicar com eles, persuadindo-os ao arrependimento e à conversão.
Pregação é, portanto, comunicação. Não é uma comunicação qualquer. Mather,
afirma que “o principal intento e finalidade do ofício do pregador cristão [é] restaurar o trono e
o domínio de Deus nas almas dos homens” (Piper, 2011, p. 21). Compreende-se daí que a
pregação cristã visa a restauração da comunhão do homem com Deus e sua conseqüente
salvação e edificação. Ela é uma comunicação querigmática, que para ser eficiente necessita ter
um tempo limitado, a primazia na liturgia e um conteúdo sistematizado à luz da Bíblia.
1.1. O tempo de pregação: a brevidade do sermão
Através de uma rápida observação do mundo contemporâneo é possível perceber o
valor do tempo, principalmente na sociedade ocidental e pós-industrial. O Capitalismo, como é
de conhecimento geral, reduziu tudo a um determinado valor e, consequentemente, o valor ao
capital. Assim, as coisas, os homens e até as abstrações, por exemplo, o tempo, acabam
possuindo determinados valores, queira-se ou não. Por isso, se tornou vigente para o cidadão
ocidental a máxima time is money, ou seja, tempo é dinheiro, é capital. Como o capital é visto
por muitos como a mola propulsora da própria história, o tempo empreendido nas tarefas
precisa ser minimizado, para que se obtenha por seu intermédio a maximização dos resultados,
e consequentemente, dos lucros. Isso parece complicado, mas não é: quanto mais tempo, mais
produção, e quanto mais produção, mais capital. Por este motivo o homem e a mulher
ocidentais se submetem a um ativismo alucinante, tentando minimizar o gasto de tempo e assim
aumentar a produtividade, para maximizar o ganho de capital.
Interessante é que essa não uma questão meramente secular. Seus efeitos se fazem
sentir nas igrejas, trazendo a necessidade de que as atividades religiosas sejam mais breves e
objetivas, inclusive o culto e a pregação, como diz Feitosa: “os longos discursos sucumbiram
diante das breves palavras” (2011, p. 09).
Muitos afirmam que no interior do Brasil um bom pregador é aquele que fala muito,
que gasta bastante tempo convencendo as pessoas, usando inúmeros argumentos e figuras.
Podemos atribuir isso à tranqüilidade de vida do povo interiorano: pouco trânsito, distâncias
pequenas, vida cultural geralmente menos ativa, etc.. Nas grandes cidades, porém, as pessoas
“correm”, enfrentam trânsitos caóticos, têm muitas atividades paralelas e já não podem
empreender muito tempo em uma só atividade. Nessa condição não há lugar para a prolixidade
na pregação, nem mesmo no culto.
Aliás, esta não é uma discussão recente. Desde a Reforma Protestante já se falava a
favor da brevidade e contra a prolixidade na proclamação do Evangelho, lógico que a partir de
referenciais diferentes dos atuais. Lutero, por exemplo, afirmou: “procurem trazer de modo
simples e breve o teor principal da prédica, e depois deixem-na por conta de Deus, nosso
Senhor” (Kirst, 1985, p.189). Mesmo Spurgeon, tempos depois durante o movimento
avivalista, caracterizado por longas pregações, deu o seguinte conselho aos pregadores:
“passem mais tempo no gabinete, para que necessitem de menos tempo no púlpito” (s/d,
p.177).
Provavelmente, a brevidade de que ambos falavam não se compara com a que se
necessita nos dias atuais, mas já havia naquele tempo a idéia de que não é pelo muito falar que
se transmite a Palavra de Deus. A compreensão da inversão de proporcionalidade apresentada
acima por Spurgeon, inclusive, é muito interessante: ele defende que, quanto mais tempo de
preparo, menos tempo será necessário na pregação, ou seja, haverá mais objetividade. Por
outro lado, também é verdade que quanto menos tempo de preparo, mais o pregador terá que
introduzir novos elementos no sermão, produzindo uma espécie de “variações sobre um tema”,
o que poderá levá-lo para longe do seu objetivo inicial e do propósito central da mensagem,
prejudicando a comunicação.
A questão da brevidade hoje é necessária por dois motivos: o primeiro deles é o já
citado - o valor dado ao tempo por causa do ativismo; o segundo tem a ver a concorrência
desleal da mídia, que tem uma infra-estrutura de vanguarda, um marketing convidativo e se
baseia na cultura do simulacro, trazendo a todos uma realidade idealiza e lúdica, através da
qual as pessoas preferem as sensações geradas pelos signos midiáticos às experiências
concretas da existência. Esse concorrente desleal tem como principal característica a sua
objetividade na veiculação de mensagens: transmite-se muitas informações em pouco tempo.
Com isso, as pessoas acostumadas com a rapidez e objetividade das informações da
mídia, sentem dificuldade em se concentrar em sermões longos, demorados e prolixos. Por
tanto, há necessidade da brevidade na pregação, para que se passe o máximo de informações
no mínimo de tempo, e para que estas informações possam ser retidas pelos ouvintes.
Ainda existem outros motivos que justificam a brevidade do sermão além dos já
citados. A limitação do pregador é um deles. É extremamente difícil prestar atenção num longo
sermão, a não ser que venha de um pregador excepcional. O problema é que este tipo de
pregador é incomum, como o próprio termo “excepcional” quer dizer. Outro motivo é a
limitação do sermão pregado, como bem salienta Golvea Jr. : “se o sermão é bom, não precisa
ser longo, se é mau, precisa ser breve” (1974, p.94). Um último motivo é a limitação dos
ouvintes, como afirma Kirst: “quem se ocupa com a confecção de prédicas, precisa levar em
consideração a capacidade dos ouvintes de prestar atenção, assim como as manifestações de
cansaço que resultam da duração do culto e da própria prédica” (op. cit., p.75). Isso é real, em
especial quando se pensa num auditório formado por pessoas que nem sempre estão
acostumadas a se concentrar por muito tempo, o que parece ser a maioria.
Para um culto como costumeiramente se encontra nas igrejas do Brasil, sugere-se a
duração de 1 hora a 1 hora e trinta minutos, com uma pregação ocupando proporcionalmente
cerca de 15 a 30 minutos, sendo breve, para que as outras atividades litúrgicas não sejam
prejudicadas. É mister que se leve em conta que também as outras partes da liturgia são
indispensáveis ao culto. Deve-se reconhecer que a Palavra de Deus não é anunciada somente
pela prédica, mas por toda a liturgia, quando esta é bem preparada e há unidade entre
mensagem e liturgia. Uma mensagem bem colocada, num culto bem organizado, falará ao
coração de um povo sedento por Deus!
A brevidade na pregação não é conveniência de um dado momento histórico, ou de
uma cultura, pois é necessidade real e constante do ouvinte. Só assim ele assimilará o máximo
de informações e ensinos para o seu viver. É necessidade também que o pregador se adapte ao
mundo contemporâneo para ser eficiente, sabendo que a realização de um trabalho com
sucesso depende de um duplo aspecto: a graça de Deus e o esforço próprio.
1.2. O lugar da pregação na liturgia: a centralidade da mensagem no culto
Lloyd-Jones, ao falar sobre a decadência da pregação, afirma que “o púlpito
costumava ocupar o lugar central, mas isso não acontece mais, agora vemo-nos olhando para
algo que corresponde a um altar, ao invés de contemplar um púlpito, o que geralmente
dominava um edifício inteiro” (1989, p.13). Um púlpito quando não ocupa usualmente o lugar
central num templo reformado pode ser sinal de que a pregação perdeu o valor central na vida
da igreja.
A perda de centralidade da pregação contemporânea, aliás, tem sido um tema
recorrente. Nota-se que a pregação hoje tem cedido lugar aos aspectos simbólico, místico e
celebrativo do culto. O povo evangélico, conhecido historicamente como “os Bíblias”, agora
são notados pela festividade, teatralidade ou musicalidade de seus cultos. A centralidade da
pregação da Palavra no culto cedeu lugar a outros aspectos, como as celebrações de louvor, os
ofertórios, ou até as ministrações de libertação espiritual.
Na Reforma Protestante houve uma unilateralidade quanto à visão do púlpito no
templo, e consequentemente, da pregação no culto. Isso de certa forma foi um equívoco ao
criar uma posição extremada. Por outro lado, não podemos cair no outro extremo de a
pregação da Palavra se tornar periférica, um mero adendo.
Andando em diversas igrejas pelo Brasil, encontram-se algumas coisas interessantes: a
mesa ocupando o centro, apelando ao aspecto simbólico, ou os instrumentos musicais
assumindo o centro, apontando para o caráter pop do culto. Não seria isso uma evidência de
que a pregação está aos poucos se diluindo frente aos vários elementos do culto? Que
conseqüências isso trará à vida eclesiástica contemporânea?
Se a igreja encara como Lloyd-Jones que “a tarefa primordial do ministério cristão é a
pregação da Palavra de Deus” (Ibid, p.14), terá que dar à mensagem bíblica um lugar especial,
central na liturgia. Deve-se evitar o erro de se celebrar cultos “tão” comemorativos em que
haja tantas programações, tantas apresentações, tantas homenagens a ponto de a pregação ficar
na periferia, ocupando um “cantinho” ao final da programação, quando o auditório já está
cansado e sem condições de se concentrar para ouvi-la.
Assim, a centralidade da mensagem no culto é necessária, bem como a sua brevidade,
de acordo com a proporcionalidade em relação ao tamanho do culto.
1.3. A ênfase da pregação: a centralidade bíblica no sermão
É tradição nas igrejas evangélicas a existência das pregações. Culto sem mensagem é
descabido em boa parte das comunidades de fé. Entretanto, nota-se que em muitas delas as
mensagens são motivacionais, baseadas no que se chama hoje de auto-ajuda, fugindo e muito
ao padrão bíblico, abordando temas genéricos como prosperidade, saúde, felicidade, etc..
Noutras, a Bíblia é apenas citada como pretexto, mas os sermões são explanados à luz do
interesse dos pregadores. Como afirma Zabatiero: “nos próprios sermões, a Bíblia parece estar
se tornando apenas um ícone, um símbolo que é evocado para dar legitimidade ao conteúdo da
pregação, mas que tem pouco a ver com esse conteúdo” (Kohl & Barro, op. Cit., p.14).
Zabatiero, ao discutir a realidade da leitura da Bíblia e da pregação do sermão na
atualidade, afirma que as “pessoas já não conseguem mais ficar atraídas por um sermão à moda
antiga, sua capacidade de atenção é diferenciada, mais diversificada, mais nervosa; em outras
palavras, aquele velho tipo de sermão já não funciona mais” (ibid, p.14). Mostra-nos o autor,
dessa forma, a necessidade de inovação e de criatividade sermônica, apontando para o uso de
recursos diversos, o que será abordado oportunamente. Mesmo reconhecendo esta situação,
Zabatiero não aceita outras autoridades e guias para a salvação do homem, exaltando a
unicidade do Evangelho bíblico e a relevância da proclamação bíblica (ibid, p.14). Nesse
sentido a própria Bíblia afirma que o Evangelho “é poder de Deus para a salvação de todo
aquele que crê...” (Rm 1:16), bem como ainda diz que “a fé vem pelo ouvir, e o ouvir, pela
palavra de Cristo” (Rm 10:17).
Não se pode desperdiçar o tempo que se tem para trazer a mensagem de Deus às
pessoas com outras informações, que, por mais que sejam significativas, não podem produzir
salvação. A ênfase da pregação atual precisa ser bibliocêntrica. Assim, ter-se-ão mensagens
edificantes e impactantes, capazes de transformar vidas e salvar homens e mulheres.
2. O Conteúdo da pregação pós-moderna
Santos, mestre em Comunicação pela UFRJ, aponta como uma das características da
condição pós-moderna a deserção da religião. Ele diz:
O Pós-Modernismo, já se disse, é o túmulo da fé. As religiões antigas cedem ante
uma porção de pequenas seitas sem futuro, os indivíduos procuram credos menos
coletivos, mais personalizados (meditação, zen-budismo, ioga, esoterismo,
astrologia), e a transcendência divina acabará fechando por falta de clientes: 45% dos
franceses entre 15 e 35 anos não acreditam em Deus... é que o homem pós-moderno
não é religioso, é psicológico. Pensa mais na expansão da mente, que em salvação da
alma. (op. cit., p.94).
Este é o retrato da religiosidade ocidental, na chamada sociedade pós-industrial: as
seitas surgindo e crescendo, as religiões milenares orientais chegando ao Ocidente e ganhando
adeptos e as igrejas históricas crescendo apenas vegetativamente, quando muito; a Religião
sofrendo críticas contundentes das ciências e se organizando em “guetos” de auto-proteção: o
ateísmo e o agnosticismo ganhando mais e mais adeptos. Quadro terrível!
Cavalcanti, discutindo a Pós-Modernidade e a Espiritualidade, compreende que o
cristão deve desenvolver “um novo relacionamento, ao mesmo tempo crítico e fecundo com o
pós-moderno, (onde) os cristãos pós-modernos deverão trabalhar a partir de uma incorporação
e não pela negação conservadora (da Pós-Modernidade)” (1993, p.25). Ele ainda considera
que a estrutura religiosa no novo milênio deve se basear na adoração (ver), na reflexão (julgar)
e na ação (agir), em todos os três, embora nenhum isoladamente (Ibid, p.25).
Apesar de Pós-Modernidade não significar a morte de Deus ou da Religião, são
inegáveis os abalos que a estrutura religiosa vem sofrendo quanto ao conteúdo doutrinário,
discurso e credo. É que as metanarrativas estão em decadência na atual realidade, como atesta
o famoso teólogo Stanley Grenz (1997, p.239). Além disso, há o despontar de um pensamento
fraco, ou frágil, chamado piensero debole, que não consegue abarcar a totalidade da verdade,
segundo o filósofo italiano Gianni Vattimo (2001, p. 12).
Como, então, deve ser marcado o conteúdo da prédica num contexto de transição e
crise? Podem-se sugerir quatro aspectos:
2.1. A objetividade
Esta é uma forte característica da atual fase de transição histórica. Não se faz
referência aqui à objetividade epistemológica da relação sujeito-objeto, pois há uma tendência
à subjetividade atualmente. O que se quer é a estipulação de um propósito bem definido e
mensurado, algo que norteie a finalidade de um determinado trabalho.
Kirst, falando sobre a necessidade de objetividade na pregação, afirma que “o
importante é que o pregador estabeleça o que quer, qual a intenção a prosseguir” (op. cit.,
p.77). Tal objetividade não pode ser alcançada sem o planejamento de uma estrutura
sermônica. Esse é, na verdade, o “x” da questão. Para se ter objetividade é preciso
sistematizar, planejar, organizar, elaborar. O problema é que nem todos os pregadores
desenvolvem esta capacidade, pois muitos consideram que esse tipo de trabalho limita a ação
do Espírito. Ledo engano. Se o Espírito Santo age onde há desorganização, muito mais fará
onde há organização!
É preciso evitar aquilo que se chama de “prolixidade perambulatória”. Tizard diz que
“os rodeios tortuosos podem destruir a objetividade de um sermão” (1962, p.83) e Spurgeon
deu aos seus alunos o seguinte conselho: “não repitam a mesma idéia vez após vez,
empregando outras palavras. Façam surgir algo novo em cada frase. Não fiquem a vida toda
martelando o mesmo prego” (op. cit., p.175).
Não é com muitas palavras e idéias que se alcança e eficiência, mas com um sermão
bem preparado, com um propósito bem específico, o que lhe confere objetividade.
2.2. A unidade
Além da brevidade e da objetividade, o sermão contemporâneo precisa ter uma linha
de pensamento que norteie todo o seu desenrolar. Ouvem-se constantemente nas igrejas os
sermões “passeando pela Bíblia”, onde os pregadores abordam diversos assuntos bíblicos sem
relação direta entre si. Nessa perspectiva o sermão se torna uma “colcha de retalhos”, sem
princípio, meio e fim definidos, trazendo confusão à mente do ouvinte, que não consegue
identificar claramente a tese bíblica e os argumentos defendidos pelo pregador.
A unidade interna da mensagem é alcançada mediante a estipulação de uma tese geral
firmada nas Escrituras e de propósitos claramente definidos na composição do sermão, através
dos quais o pregador sabe claramente onde chegará e o que terá de fazer para construir as
hipóteses e os argumentos que comprovem sua tese. A relação entre todos esses elementos
quando bem feita traz unidade ao sermão e um certo caráter didático, tornando o sermão
lógico e facilmente compreensível.
De nada adianta pregar sermões longos, com palavras bonitas e difíceis, mas com
idéias soltas, desconexas e confusas. As pessoas querem “pegar o fio da meada” da construção
do pensamento do pregador, em sua relação com o texto bíblico, descobrindo as principais
idéias de forma sistematizada, o que colabora com sua compreensão e memorização, fazendo
com que guarde “a tua palavra no coração para não pecar contra ti (Deus)” (Sl 119:11).
Um outro aspecto importante é o da unidade externa da mensagem com o culto. Este
não deve ir numa direção enquanto a mensagem vai noutra. É mister que haja sinergia entre a a
mensagem e o culto, havendo entranhamento e não estranhamento entre ambos. Quando há
essa unidade a mensagem apresentada transcende a pregação propriamente dita, trazendo
inúmeras contribuições para a vida dos adoradores.
2.3. A acessibilidade
Jesus foi um homem simples. Era um homem da periferia do Império Romano e da
periferia da Palestina (Galileia). Como disse Küng, Jesus foi um homem rude, não polido.
Apesar disso, havia relevância e sabedoria em seu discurso (1976, p. 125).
Há um consenso de que ele não era saduceu, nem fariseu, não era herodiano, nem
zelote, nem essênio (ibid, p.151), não freqüentou escolas teológicas, nem universidades. Era
alguém que falava com simplicidade sobre a iminência do Reino de Deus. Falou de algo
profundo de maneira muito acessível. Exemplificou com o sal, a terra, os olhos, a semente, os
campos, os trabalhadores, o fermento, a água, o pão – todos elementos do cotidiano de quem
o ouvia.
Seguindo o exemplo de Jesus, o pregador cristão precisa desenvolver com
simplicidade o conteúdo da mensagem do Evangelho, a fim de que haja acessibilidade à sua
mensagem e as pessoas possam compreendê-la e aceitá-la. Como disse Spurgeon, “os nossos
ouvintes não querem os puros ossos da definição técnica, mas carne e saber” (op. cit., p.176).
O ser humano carece de alimento verdadeiro, da Palavra de Deus, transmitida de forma que
cale em seu coração.
Por esse motivo, muitos pregadores estão optando por pregações narrativas, o contar
de histórias bíblicas seguidas de aplicações à vida cotidiana, através das quais atingem todos os
tipos de auditórios, do erudito ao simples. As chamadas “narrativas bíblicas” são elaborações
extremamente simples e acessíveis, mas que falam ao coração das pessoas, trazendo
orientações teológicas, éticas e outras informações à luz das Escrituras. Marinho aborda este
tema com bastante consistência, ao afirmar que...
Contar histórias tem sido o método por excelência através dos tempos. Foi assim no
Antigo Testamento, continuou assim nos dias de Cristo,e ainda hoje esse é um dos
métodos mais poderosos para apresentação da mensagem bíblica. Talvez seja esse o
único método que transcende os limites de tempo e espaço, pois, independente de
época, região ou cultura, esse método narrativo fascinava o ouvinte antes do Pré-
Modernismo e tudo indica que vai continuar fascinando as pessoas além do Pós-
Modernismo. Existe um poder mágico numa história bem contada, que é capaz de
absorver a atenção e a concentração de ouvintes de qualquer idade, raça, nível
cultural ou posição social. (2008, p.79).
Segundo Annette Sim, citada por Marinho, as histórias produzem uma “magia” que as
torna muito poderosas na mente e na vida das pessoas. Elas proporcionam o poder de conexão
entre quem conta e quem ouve a história, gerando empatia; tocam o inconsciente das pessoas
deixando marcas que podem durar para o resto da vida; dão atenção às carências emocionais
das pessoas, que neste tempo se sentem extremamente carentes; enriquecem atos e verdades,
tornando atraente qualquer verdade ou tema que, de outra forma, poderiam ser rejeitados
como inconvenientes ou indesejáveis; possuem uma perspectiva multidimensional, pois narram
ocorrências numa dimensão cronológica, como uma mera seqüência de eventos. (Ibid, p. 79).
No entender do autor citado, as narrativas bíblicas aumentam a acessibilidade da mensagem
bíblica, permitindo a qualquer tipo de auditório a compreensão da Palavra de Deus. Por isso,
precisamos de contadores de historia como Jesus, narradores que comuniquem a mensagem do
Evangelho com profundidade e ao mesmo tempo de forma acessível, atingindo as pessoas de
todos os níveis sociais, culturais e acadêmicos.
2.4. A relevância
São muitas as igrejas locais e seus respectivos pastores que enfrentam dificuldades em
tornar relevante o conteúdo da Palavra de Deus. Embora alguns pastores afirmem que “não é
preciso tornar a Palavra de Deus relevante: ela já é relevante...” (Liefeld, 1985, p. 28), o que se
percebe na prática é algo diferente, pois quando o pregador não consegue compreender o texto
bíblico, interpretá-lo corretamente, contextualizar a mensagem e aplicá-la à realidade dos
ouvintes, associando-a ao seu cotidiano, a mensagem apresentada deixa de ser relevante.
Os pregadores precisam ter em mente que a relevância da pregação da Palavra de
Deus está entre dois pontos: a fidelidade bíblica e à pertinência e propriedade diante do
contexto local e cultural. Infelizmente, muitos, influenciados ainda pela filosofia dos primeiros
missionários estrangeiros, não levam em conta tal fato, indo de encontro a aspectos culturais e
geográficos, criando até conflitos com as comunidades locais, por não perceberem a
necessidade de contextualização.
Há hoje nos círculos teológicos uma busca da influência geográfica e espacial no
discurso teológico, como bem afirma Westelle, professor de Teologia Sistemática da
Faculdade Luterana de São Leopoldo, citando Foucault: “a presente época (a Pósmodernidade)
será, talvez, sobretudo a época do espaço” (Maraschin, op. cit., p.153). Não se
pode mais desespacializar a mensagem do Evangelho pois foi “dada” aos homens num
contexto histórico, geográfico e cultural. Por isso, para torná-la relevante é mister usar o
conteúdo bíblico e contextualizá-lo à realidade local dos seus ouvintes. Este é o objetivo de
algumas teologias recentes, que propõem falar ao homem sobre os seus problemas e anseios,
tendo como referencial primordial a Palavra de Deus aplicada ao contexto local.
Um elemento que favorece o reconhecimento da relevância da pregação eclesiástica é
o seu caráter integral. A mensagem do Evangelho fala de salvação eterna (mensagem
espiritual), fala de paz interior e coragem para o enfrentamento da vida (mensagem
psicológica), fala de vivência comunitária (mensagem relacional) e fala de justiça social
(mensagem sociopolítica). Quando a igreja consegue integrar todos esses elementos em sua
pregação e em sua prática cotidiana torna-se extremamente relevante, pois atinge o ser humano
em sua integralidade, com todas as suas necessidades, expondo-as diante da totalidade do
Evangelho, para que este possa trazer respostas concretas aos diversos anseios humanos.
Há, assim, duas formas de medir a relevância de uma pregação: uma a priori e a outra
a posteriori. A forma a priori é avaliada através da fidelidade bíblica, tema abordado em
seguida, e da capacidade do pregador de aplicá-la corretamente à vida das pessoas. A forma a
posteriori é avaliada através da capacidade da mensagem de falar ao coração e transformar a
vida das pessoas. Como disseram Stanley e Jones, a pregação deve ser capaz de transformar e
impactar vidas e o pregador precisa ter compromisso com essa tarefa (2010, p. 106),
confrontando e incomodando os acomodados e confortando e apascentando os incomodados e
atribulados
2.5. A fidelidade às Escrituras
Não seria correto deixar de abordar o tema do sola scriptura defendido pelo
reformadores do Século XVI. Lloyd-Jones afirmou que, “na pregação, a mensagem deve
sempre originar-se diretamente da Escritura...” (op. cit., p.135). Seja de acordo com a
ortodoxia deste pensamento, que entende que toda mensagem tem como origem a Bíblia, ou
de acordo com a ortopraxia, que entende que a resposta dada pela mensagem é fundamentada
na Bíblia, mas a pergunta é feita pelo mundo, o importante é reconhecer que a Bíblia deve ser
o fundamento de toda mensagem pregada de um púlpito evangélico.
Foram muitos os questionamentos levantados pelo Liberalismo Teológico sobre as
Escrituras Sagradas. Questionou-se sua veracidade, autenticidade, autoria, propósitos, mas a
Bíblia continuam sendo, em pleno Século XXI, a Palavra de Deus. Hoje se questiona muito
mais questões hermenêuticas do que propriamente a veracidade e autenticidade documental do
texto Bíblico.
Deve o pregador, portanto, evidenciar conhecimento e credibilidade nas Escrituras.
Jesus repreendeu os fariseus por não conhecerem as Escrituras: “...Este é o vosso erro: não
conheceis as Escrituras, nem o poder de Deus” (Mt 22:29b), apontando que muitos dos seus
erros associavam-se à sua ignorância escriturística.
Além de conhecer é preciso crer na sua autenticidade. Só assim pode o pregador falar
com autoridade, como bem lembra Morgan: “quem quer pregar a Palavra de Deus com poder
tem que viver com a palavra e tem que conhecer a Palavra de Deus...” (1984, p.122).
Wangerin Jr., em artigo recente, afirma que “pregar é – mas não somente – uma função do
nosso intelecto. Estamos fazendo mais do que passando puro conhecimento às pessoas. Nossas
almas são desafiadas a crer no que falamos.” (Robinson & Larson, op. cit., p.127). Para ser
relevante e eficiente é necessário ao pregador conhecer, crer e viver a Palavra de Deus.
Não é interesse aqui concordar com algumas pessoas que afirmam que o pregador, no
desenvolvimento de seu ministério, só precisa conhecer a Bíblia e explanar somente a Bíblia,
mas que ela deve ser o fundamento de todo o discurso proclamatório. É necessário concordar
com K. Barth, quando dizia que o pregador precisa possuir numa mão a Bíblia e na outra o
jornal diário (Kirschner, 2010), incentivando aos pastores a necessidade de se atualizarem no
conhecimento escriturístico, mas também em conhecimentos gerais, para serem capazes de
fazer leituras de mundo, bem como análises de conjuntura, aplicando adequadamente a Palavra
de Deus.
É mister, que além do conhecimento bíblico, o pregador conheça o ser humano, sua
estrutura, sua história, seu pensar, para melhor aplicar o conhecimento bíblico. Zabatiero
afirma que “um hábito que além de agradável ajuda muito a pregar melhor é o de acompanhar
a leitura da Bíblia com a leitura de obras culturais de nosso tempo: literatura, poesia, cinema,
música, etc.” (Kohl & Barro, op. cit., p.29).
Baseando o conteúdo da prédica pós-moderna nas Escrituras, conhecendo o contexto
para qual anunciará a mensagem de Deus, é certo que o pregador contemporâneo terá uma
mensagem relevante, pois a Bíblia fala dos problemas humanos e de como as pessoas podem
resolvê-los e encontrar salvação. O pregador obterá muito mais eficiência em seu ofício, pois
estará apresentando a Verdade de Deus aos homens, que, se devidamente conhecida poderá
libertá-los: “e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”! (Jo 8:32)
3. A Forma de apresentação da pregação pós-moderna
A sociedade pós-moderna se caracteriza também pela valorização crescente da
estética e da forma. É o desenvolvimento das formas estruturais do design, das formas de
apresentação da lingüística, das formas arquitetônicas, ou até mesmo as musicais, muitas vezes
sem o devido interesse pelos conteúdos e informações correspondentes.
Esse interesse crescente dado à estética associa-se à noção de beleza da forma ou à
noção de eficiência da mesma. Assim, é possível encontrar pessoas que valorizam determinada
forma por uma questão meramente estética (o belo), ou por uma questão funcional (a
performance). Há, portanto, aqueles que valorizam a forma exatamente por sua função.
Concordando com esta visão, Santos diz que “...a forma segue a função. Primeiro a finalidade,
depois a beleza” (op. cit., p. 44).
Apesar de se perceber a importância da forma na apresentação de um sermão, não é
possível hipervalorizá-la a despeito do conteúdo sermônico. Forma e conteúdo necessitam ser
desenvolvidos em harmonia, sem contrastes, a fim de que a relevância e a eficiência da prédica
sejam alcançadas.
Eis, então, algumas características que devem ser desenvolvidas na prédica pósmoderna,
quanto à forma:
3.1. A dinâmica da pregação
Lloyd-Jones afirma que “o pregador jamais deve mostrar-se tedioso, nunca deve ser
enfadonho; ele nunca deve ser o que se chama de “pesado” (op. cit., p.63). Isso é realmente
sábio, pois há pregadores difíceis de serem ouvidos, devido ao caráter tedioso, lento, negativo
e prolixo da apresentação de suas prédicas. Quem deseja ouvir alguém assim?
Tudo indica que principalmente os jovens e adolescentes com sua hiperatividade são
os que mais reclamam de tal fato, pois estão acostumados a receber informações da mídia, com
seus recursos dinâmicos. Até mesmo nas escolas e universidades contemporâneas há, em geral,
melhores recursos didáticos e de comunicação.
Foi Spurgeon quem aconselhou seus discípulos, dizendo: “preguem aos homens como
os que têm que dar logo um relatório, e desejam que o mesmo não seja doloroso para os seus
ouvintes, nem mortificantes para si próprios...” (op. cit., p.183). Para que isso aconteça, o
pregador precisa ser dinâmico no falar, variado ao ilustrar e claro ao aplicar. Necessita saber se
relacionar publicamente, captando o interesse e as necessidades dos ouvintes, enfatizando o
que é relevante e abandonando o que não tem sentido em determinado contexto.
Dinamismo na pregação não significa falar rápido, mas pregar com brevidade,
autoridade, fluência e relevância o conteúdo da Palavra de Deus. É um aspecto formal de suma
importância na pregação atual, por causa da exigüidade do tempo e também da
multirreferencialidade de interesses dos ouvintes.
Se não houver dinâmica na pregação, será extremamente difícil obter a atenção dos
ouvintes diante da concorrência da TV e de outros instrumentos de comunicação de massa. É
necessário prestar atenção para evitar, porém, exageros como o de cair no erro de o pregador
se parecer com um animador de auditório ou de televisão, postura não muito incomum nestes
dias. Não é esse o objetivo. Devem-se explorar os recursos e não imitar o modelo.
3.2. A simplicidade e a informalidade no púlpito
Um dos fatores que interferem no processo da comunicação é o “ruído”. Mas o que
seria o ruído na comunicação da Palavra de Deus? Uma das possibilidades é a erudição no
falar, provocando um certo distanciamento entre o pregador e ouvinte. Isso é agravado quando
se constata que na atualidade a comunicação pela internet é extremamente coloquial,
aproximando as pessoas. Por que, então, alguns pregadores teimam em usar um linguajar
erudito, distante do povo, dificultando a comunicação? Ou, por que continuam a colocar em
prática uma formalidade descabida, que impossibilita maiores aproximações?
Os homens e mulheres que vão à igreja desejam a simplicidade e informalidade nos
cultos e na prédica pastoral, que facilitem a identificação e os relacionamentos interpessoais.
Vive-se num mundo marcado pela conectividade. As pessoas de hoje necessitam relacionar-se
e a linguagem verbal simplificada pode facilitar isso.
A igreja é normalmente formada por um povo simples, e por isso “é preciso dizer que
branco é branco, preto é preto, de modo bem singelo, com palavras simples e claras...” (op.
cit., p.183), como bem lembra Kirst. Por que dificultar as coisas?
Mais uma vez, um bom exemplo encontrado é o do Senhor Jesus Cristo, que foi
alguém extremamente simples e informal ao falar do amor de Deus aos homens. Sentou-se com
os pobres, participou de reuniões, falou de um conteúdo simples, de forma simples. E não só
isso, pois usou de clareza com a finalidade de ser bem compreendido. Como bem disse Coelho
Filho, “ele não era conceitual, mas coloquial. Falava das coisas simples e belas do mundo” (op.
cit, p.14).
O pregador deve se lembrar que “o receptor é o elo mais importante do processo de
comunicação. Se a mensagem não atingir o receptor, de nada adiantou enviá-la” (Berlo, 1979,
p.58). A clareza é fundamental, para que, com simplicidade e informalidade, o receptor
compreenda a mensagem e a comunicação se efetive concretamente.
Embora falando de informalidade, de alegria e de relacionamentos próximos com o
povo, não se está aqui incentivando a jocosidade, ou as brincadeiras de mau gosto comuns em
muitos púlpitos. Piper, ao falar sobre o estilo de pregação de Johnathan Edwards, um dos
maiores pregadores avivalistas da história cristã, aborda sua seriedade e sinceridade ao
proclamar a Palavra de Deus, evidenciando que este traço foi decisivo quanto à credibilidade
de sua pregação (op. cit., p.56). Humor sim, mas na hora certa e sem exageros, como bem
afirmou Stott: “O humor é legítimo. Entretanto, temos de ser econômicos no seu uso e
criteriosos nos assuntos que selecionamos para rir.” (Robinson & Larson, op. cit., p.158).
3.3. A participação do auditório
Segundo Lloyd-Jones “estamos em uma nova posição, na qual os ouvintes nos bancos
estão insistindo nos seus direitos...” (op. cit., p.88). Apesar deste comentário ser feito
negativamente, é possível encontrar nele algo de positivo, pois os ouvintes já não estão
dispostos a ouvir qualquer coisa que lhes digam. E mais, eles querem participar do processo de
aprendizagem da Palavra de Deus com suas experiências e opiniões. Querem pois contribuir.
Isso é interatividade.
Berlo diz que “comunicação é procurar respostas do receptor. Qualquer fonte de
comunicação se comunica, a fim de fazer com que o seu receptor faça alguma coisa, fique
sabendo alguma coisa, aceite alguma coisa” (op. cit., p.67), e por que não dizer, responda
alguma coisa. É o que chamam tecnicamente de feed-back: a resposta. Tillich, um dos maiores
teólogos cristão do século passado, afirmou que “a comunicação do evangelho significa
suscitar a decisão a seu favor ou contra ele” (2009, p. 264). O teólogo prussiano fala deste
assunto pensando especialmente na participação do pregador na vida das pessoas, se
relacionando com elas, conhecendo a vida do seu ouvinte de perto (ibid, p.262). Hoje
reconhece-se a necessidade não apenas deste fato, mas do ouvinte individualmente, ou do
auditório coletivamente, participarem da mensagem de forma concreta.
Arthurs afirma que o diálogo com o auditório é fundamental em nosso tempo. O
pregador pode fazer perguntas às pessoas, tais como: “isso ficou claro?”, ou “o que é a grande
comissão?”, ou ainda, “do que mais você tem medo?”, e, diante das respostas, direcionar ou
redirecionar sua fala, usando as repostas como elementos introdutórios ou ilustrativos dos
sermões. (Robinson & Larson, op. cit., p.170). Citando Bonhoeffer, ele ainda afirma que o
pregador “precisa perguntar junto à congregação e formar uma 'comunidade socrática' – do
contrário, ele não poderia dar nenhuma resposta” (Ibid, p.171). A maiêutica é um excelente
instrumento de aprofundamento do conhecimento.
Hoje é possível participar de cultos onde durante a mensagem o povo se envolve
comentando, complementando, inferindo, respondendo. Parece ser salutar perceber como as
pessoas ficam concentradas no que acontece quando interagem! Esta é uma forma alternativa
para algumas igrejas que já possuem uma estrutura adequada para tal realização. É bem
verdade que isso não funciona em todos os contextos, sendo mais viável onde o auditório é
menor e o culto é mais informal. Afinal, nem todas as igrejas estão preparadas para isso.
Com algumas alterações nas formas tradicionais de apresentação da prédica, é
possível alcançar melhor eficiência, pois a participação congregacional cooperará com a
apresentação do conteúdo em si, sendo um canal apropriado para a comunicação, produzindo
aquilo que Habermas chamou de ação comunicativa, “cujo objetivo é o entendimento baseado
no processo cooperativo de interpretações, no qual os participantes se referem
simultaneamente a ações no mundo objetivo, no mundo social e no mundo subjetivo” (Lima,
op. cit. p.31). Para Habermas, a ação comunicativa proporcionaria a superação da relação
reificante de sujeito-objeto, pela relação sujeito-sujeito, permitindo a superação do paradoxo
da razão sistêmica, que oprime, pela razão comunicativa, que liberta (Rouanet, 1999,). Neste
caso, o pastor se apresenta não apenas como o informador na igreja, sendo o seu papel atual
também de mediador e facilitador dos diversos conteúdos recebidos por seu rebanho.
Para promover sua tarefa de mediação comunicativa com maior eficiência, o pregador
deve quebrar alguns paradigmas comuns às igrejas evangélicas, contextualizando práticas
relativas à homilética, tais como a forma de apresentá-la, incluindo a participação da
congregação. Creio que isso não é um problema para todos aqueles que, frutos da herança
Protestante, acreditam no “livre sacerdócio do crente”, tema tão desenvolvido a partir da
Reforma do Século XVI.
Uma ressalva, porém, é necessário fazer: não se deve confundir ação comunicativa
com infantilização do auditório, que é o caso em que pregadores sujeitam seus ouvintes a
dizerem durante os cultos, frases de efeito, tais como: “diga ao seu vizinho que é lindo!”, ou
“Jesus vai dormir na sua casa hoje!”. Isso é manipulação. Não tem valor espiritual, nem tem
relevância comunicacional.
3.4. O uso de recursos midiáticos
Existe uma séria discussão sobre o papel da imagem no mundo atual. Arlindo
Machado, em seu livro O Quarto Iconoclasmo (2001), fala sobre a realidade da comunicação,
abordando a temática da reação à imagem, quando esta tem sido vista hoje por ele como
danosa na formação da sociedade. Segundo o autor, o quarto iconoclasmo seria oriundo desta
“civilização das imagens” (ibid, 2001), onde alguns entendem que a escrita estaria sendo
subtraída através dos recursos de imagem e um novo analfabetismo estaria sendo
desenvolvido. È lógico que este posicionamento tem sido duramente combatido e muitos têm
se levantado para defender a utilização das imagens como elementos que enriquecem a
comunicação escrita ou verbal.
Ora, Se na sociedade chamada pós-moderna, que é impregnada de imagens tem
havido tal reação, como se daria hoje a inserção dos recursos midiáticos nas comunidades
eclesiásticas, tão acostumadas à comunicação escrita e verbal?
Na verdade há um misto de desconhecimento e descaso quanto ao uso destes recursos
como integrantes da comunicação da igreja Muitos se esquecem da utilização dos recursos
visuais, entre os quais os midiáticos, que poderiam tornar os sermões mais atrativos quanto à
forma, interessantes e acessíveis aos fiéis. Por isso há uma necessidade de adequação das
experiências litúrgicas e proclamatórias à presença da tecnologia comunicacional nas igrejas. E
isso requer preparo: aquisição de equipamentos, treinamento sobre o modus operandi e tempo
ou equipe para preparar os recursos.
Há, na verdade, uma necessidade urgente de mudança de paradigma na pregação da
Palavra de Deus nas igrejas de nosso tempo. Tal mudança não é só referente à melhora do
preparo e da performance do pastor no ato da pregação. Deve-se mudar também a forma da
apresentação, com o uso de recursos técnicos e visuais, que promovam maior eficiência na
comunicação religiosa. Quicke concorda com este pressuposto, pois afirma que...
existe uma concordância geral de que a modernidade ocidental, influente pelos
últimos 250 anos, está dando lugar ao pós-modernismo, o que chama para nova
atenção aos estilos de comunicação. Hoje em dia, os pregadores precisam usar todos
os recursos tecnológicos disponíveis e se apropriar do meios de comunicação.
(Robinson & Larson, op. cit., p.79).
Tais recursos, entretanto, devem ser usados racionalmente, criticamente, evitando
aquilo que Lima (2002, p.75) condena em seu trabalho ao se referir especificamente ao uso
inadequado do vídeo em sala de aula, mas que se pode aproveitar quanto ao uso dos recursos
midiáticos na igreja. Assim, tais recursos não podem ser usados como “tapa buracos”,
“enrolação”, etc., pois não cumpririam o seu papel.
Jansen, ministro de música evangélico que residiu nos Estados Unidos (2003), afirma
que se vive num tempo em que não se pode escapar ao avanço tecnológico na vida diária.
Segundo ele, tal avanço faz parte do cotidiano em praticamente todas as áreas da vida humana.
Lembra ainda que hoje se vive uma nova realidade, a realidade do rápido, do instantâneo, das
máquinas pensadoras, do videogame de alta resolução, do DVD, do CD, da terceira dimensão,
etc. Por este motivo entende que a igreja deste novo tempo precisa encarar a nova realidade do
comportamento tecnológico.
Sem dúvida, tal concepção deve ser observada, pois com tantos recursos tecnológicos
à disposição, também as igrejas cristãs, em especial as evangélicas, devem utilizá-los. Com isso
a palavra, associada à imagem, tem condições de comunicar muito mais, reforçando o
conteúdo transmitido.
Além dos inúmeros recursos sonoros utilizados atualmente nas igrejas, que tanto
ajudam na apresentação de músicas, na ministração de louvores, ou mesmo na pregação, faz-se
necessário utilizar os seguintes recursos midiáticos associados à pregação: projetores de
multimídia (Datashows), computadores, câmeras, filmadoras, scanners, internet, tablets,
ipods, ipads, etc.
No culto, tais recursos podem ser utilizados para apresentar informações no inicio e
final das liturgias, evitando os intermináveis e terríveis avisos comuns nas reuniões
protestantes. Podem ser utilizado também no canto congregacional, quando as letras dos
cânticos e hinos podem ser apresentadas na tela, junto a imagens que traduzam bem o seu
sentido. Podem ter um papel fundamental na apresentação de imagens durante as pregações.
Podem apresentar o texto bíblico, para que os fiéis acompanhem a sua leitura. Podem também
evidenciar o esboço do sermão do pastor, ou os tópicos do mesmo, bem como as teses e os
destaques defendidos pelo pregador em sua mensagem. Além disso, filmes, imagens e fotos os
mais diversos poderão ser projetados, a fim de fortalecer o entendimento e melhorar o
aproveitamento da mensagem.
Na observação deste autor, o sermão, quando pregado em conjunto com a
apresentação de imagens, usando-se tais recursos, desde que bem associadas à mensagem,
produz um efeito poderoso de convencimento, de indignação, ou de sensibilização diante
daquilo que foi objetivado. É bem verdade que o objetivo de utilização da imagem não é
puramente convencer, mas levar pessoas a reflexões sérias sobre suas posturas de vida e
quanto ao seu engajamento no propósito de Deus diante do mundo em que vivemos.
A igreja, portanto, não pode se omitir de utilizar tais tecnologia, seja por ignorância,
tradição ou preconceito. Cabe a ela usá-las de acordo com seus propósitos neste contexto
marcado pela comunicação visual. Como afirmou Souza, “nos dias atuais essa contraposição
palavra escrita / imagem analógica também se desdobra nessa terceira fase que chamamos de
multimídia: a idade do visual” (Lima, op. cit., p. 47). Portadoras dos recursos de multimídia, as
igrejas evangélicas, juntamente com seus pastores e pregadores, devem buscar capacitação e
treinamento para fazer uso de toda tecnologia que possibilite a melhor profusão da palavra de
Deus.
Conclusões e recomendações
Com toda a série de transformações estruturais ocorridas nas últimas décadas na
sociedade ocidental é possível perceber as mudanças decorrentes da transição histórica pela
qual o mundo passa e sua influência sobre a Igreja Cristã, bem como a necessidade da
continuidade destas mutações. Isso se faz mister porque a Igreja precisa cumprir sua missão no
mundo e, para tanto, necessita se contextualizar, compreendendo a sua identidade na relação
com Deus e com o cosmos.
Entre os vários aspectos da missão eclesiástica, se encontra o ato da proclamação, a
comunicação de uma mensagem de amor, graça, fé, esperança, perdão e salvação. Essa
mensagem é anunciada ao mundo e o seu conteúdo precisa ser compreendido e aceito. Para
que isso aconteça, a mensagem cristã precisa ser relevante quanto ao conteúdo e atraente
quanto à forma, alcançando eficiência. Por isso, deve a igreja desenvolver uma estrutura
adequada da proclamação, onde ao mesmo tempo seja fiel às Escrituras em seu conteúdo, mas
contextualizada quanto à forma e sensível ao mundo. Assim, acredita-se que haverá eficiência e
relevância na comunicação da Palavra de Deus e o mundo poderá compreender e aceitar o
Evangelho de Cristo.
No entender deste autor, a eficiência e relevância da pregação cristã na Pósmodernidade
podem ser alcançadas e devem ser melhoradas, levando-se em conta os seguintes
desafios: 1) quanto à questão do tempo de pregação, há necessidade de brevidade na
apresentação da mensagem bíblica, colocação adequada da prédica na liturgia para concederlhe
uma performance adequada e o desenvolvimento de uma ênfase querigmática,
centralizando a Palavra de Deus na vida da Igreja; 2) quanto à a questão do conteúdo da
pregação, é preciso desenvolver o espírito da objetividade, capaz de tornar a mensagem o
mais clara possível, da simplicidade quanto à estrutura de pensamento e quanto ao linguajar,
para que a mensagem seja facilmente assimilável, da relevância, para que o ouvinte seja capaz
de discernir o que realmente é importante, e da fidelidade às Escrituras, para que, através da
comunicação da Palavra de Deus em unidade com a ação do Espírito Santo, se obtenham os
resultados desejados, como salvação, libertação e transformação de vidas; e 3) quanto à
questão da apresentação da mensagem, que a dinâmica da pregação, sua simplicidade, sua
informalidade, participação do ouvinte e uso de recursos midiáticos colaborem em tornar a
mensagem mais atrativa, quebrando preconceitos e barreiras.
Relevância e eficiência, apesar de serem muito visadas na Pós-modernidade, não
devem se transformar em uma “paranóia” para o pregador, mas devem ser encaradas como
instrumentos que colaboram com a concretização da missão do pregador e da Igreja Cristã,
com a salvação de pessoas e com o objeto maior que é a glorificação do nome do Senhor Jesus
Cristo.
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1 Graduado em Teologia pela Faculdade Teológica Sul Americana, em Londrina – PR; acadêmico de
Direito na Universidade Federal do Tocantins – UFT, em Palmas – TO; pastor da Primeira Igreja
Batista de Palmas, em Palmas – TO; professor de Teologia no Seminário Teológico Batista do
Tocantins e Seminário Teológico Getsemani, em Palmas - TO; E-mail: diowalbr@yahoo.com.br
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