terça-feira, 19 de julho de 2022

 

Hipermodernidade e Religião Cristã: reflexões sobre a igreja e o ministério pastoral em tempos de consumismo, perda de referenciais e instabilidade

Diogo Souza Magalhães[1]

Introdução

Segundo Lipovetsky e Serroy (2011), estamos passando pelo que chamam de Hipermodernidade. Para tais autores, a Hipermodernidade seria uma nova fase da Modernidade marcada por um processo de intensificação e radicalização das tendências modernistas experimentadas até então.

Os conceitos de Hipermodernidade (LIPOVETSKY E SERROY, 2011), de Pós-Modernidade (LYOTARD, 1986) e de Modernidade Líquida (BAUMAN, 1998) são semelhantes, mas com ênfases diferentes. O primeiro apresenta a ideia de intensificação do processo de mudanças modernas, o segundo destaca a nova caracterização da Modernidade e o terceiro identifica os papéis da fluidez e da indefinição dos tempos modernos, respectivamente.

Na visão de Lipovetsky e Serroy (2011), a Hipermodernidade é caracterizada pelo hipercaptalismo, pela hipertecnicização, pelo hiperindividualismo e pelo hiperconsumo. Segundo os autores, o hipercapitalismo é a ingerência do Sistema Capitalista em todas as esferas da vida humana, sejam públicas ou privadas, teóricas ou práticas, interiores ou exteriores, pessoais ou coletivas, sagradas ou profanas. A hipertecnicização seria a dependência da humanidade em relação à técnica, às máquinas e à razão instrumental, tornando as pessoas sujeitas e dependentes das coisas, sejam computadores, celulares, web, aparelhos domésticos, máquinas industriais, etc.. O hiperindividualismo, por sua vez, seria a ênfase exagerada do indivíduo sobre o coletivo, reforçando a privatização da vida coletiva, dificultando os relacionamentos interpessoais e sociais. Sobre esse assunto, Bauman (2004) afirma que o homem atual prefere as “conexões” às “relações”, ou seja, as experiências relacionais são fluida, frágeis e superficiais, ao invés de profundas e duradouras. Por fim, o hiperconsumo, que seria a conjuntura onde tudo é reduzido à relação de consumo: seja a política, a religião, a cultura, o sexo, etc. (LIPOVETSKY E SERROY, 2011; BAUMAN, 2008).

Na estrutura de mundo apresentada pelos sociólogos franceses a cultura está profundamente marcada pelo mercantilismo, tornando-se mais um objeto de consumo, entre tantos outros (LIPOVETSKY E SERROY, 2011). A finalidade da cultura para o mundo atual não seria, como outrora, a difusão da ética, da estética, a formação técnico-cultural, ou a compreensão significativa da realidade, mas focaria essencialmente nos objetivos econômicos. Todas as esferas culturais estariam debaixo das leis mercantis, servindo aos interesses do Mercado, inclusive a esfera religiosa.

Sendo assim, o maior objetivo da cultura nos tempos hipermodernos seria o lucro, o que afetaria, também às esferas religiosa e eclesiástica, mercantilizando-as. Por isso, fala-se tanto sobre a supremacia do Mercado sobre a Religião, especialmente sobre a vida das igrejas e dos líderes religiosos - ditando propósitos, valores, missão, estrutura organizacional das instituições e performance dos atores religiosos, gerando em ambos profundas mudanças.

Esse artigo tem como objetivo, portanto, apresentar a influência do hipercapitalismo sobre a vida das igrejas, sobre a performance dos ministro religiosos e perceber o mal-estar experimentado na relação entre líderes eclesiásticos e instituições religiosas, apontando para os desgastes de ambos e para a resignifcação de seus símbolos e de suas práticas.

1 Hipercapitalismo e mercantilização eclesiástica numa abordagem lipovetskyana

Como apresentado acima, a influência do Mercado sobre a Religião é tremenda nesses tempos, ditando tendências, modelos, modismos, objetivos, etc. (LIPOVETSKY; SERROY, 2011). O estilo de vida atual, baseado no consumo, é regra em praticamente todo o mundo (BAUMAN, 2008), afetando as diversas áreas da vida pessoal e social. A forma de trabalhar, a maneira de estudar, o jeito de consumir, o modo de se comunicar, o costume de se informar, a maneira de adorar, tudo está envolto pela atmosfera do consumo. Por isso, números, quantidade, qualidade, avaliações, experiência do usuário (UX), planejamento estratégico, marketing, definição de visão e de missão, entre outras questões, se tornaram comuns na vida eclesiástica de instituições que têm como foco obter consumidores, e, por fim, o lucro. Como bem afirmou Pondé (2014), a religião se tornou nos últimos tempos uma experiência superficial, voltada para o entretenimento e baseada no consumo, algo muito parecido com a experiência de frequentar o Hopi Hari[2].

1.1 A influência poderosa do Mercado sobre a Religião no mundo atual

Muito pode ser abordado sobre tal influência do Mercado sobre a Religião, sobre as instituições religiosas e sobre os religiosos. A intenção nesse artigo, entretanto, é destacar as seis características abaixo, por serem bastante evidentes no métier religioso.

1.1.1 A Espetacularização do culto

A religião mercantilizada é marcada pelos espetáculos nos cultos (COX, 1974). Muitas liturgias atuais estão assumindo características de verdadeira panacéia. Pastores se tornaram showmen, o ambiente se tornou lúdico, a estrutura ficou pop, com som, luzes e câmeras, as apresentações requerem aplausos, as performances produzem gargalhadas, gritos estalar de dedos, etc. A aparência de muitos cultos atuais é semelhante à de um espetáculo que visa entreter e agradar aos consumidores (DEBORD, 2003; LLOSA, 2013), e não edificar a vida religiosa.

Isso pode ser observado em igrejas históricas, sejam em determinados arraiais católicos, bem como em esferas do Protestantismo. O interesse neste artigo é abordar efetivamente a realidade que permeia os meios protestante, evangélico e pentecostal. Em ambientes deste tipo espetáculos são montados, considerando desde a arquitetura dos templos, passando pela ornamentação, iluminação, música, coreografias, chegando aos pormenores das mensagens, orações e “atividades espirituais”, havendo em alguns arraiais orações por curas, exorcismos e testemunhos (CAMPOS, 1996).

Infelizmente, em muitas igrejas tudo vem sendo montado visando crescimento, aumento do número de membros, ou de consumidores, dependendo da visão. Por isso, uma filosofia pragmática e funcionalista vai ganhando espaço nas igrejas, tendo como objetivo agradar à clientela, atraindo-a e atingindo seus “propósitos” (BARRO, 2004).

1.1.2 A Quantificação da vida religiosa

Desde os tempos modernos que o homem vem se preocupando com a quantificação das coisas. Hoje quase tudo se tornou objeto de medição em algumas igrejas. Muito é verificado, avaliado, objetivando aumentar os números eclesiásticos: sejam membros, entradas financeiras, patrimônio, salários, congregações, atividades, etc. As boas igrejas no Século XXI são a que tem os maiores números e não as que possuem a melhor qualidade; são as que fazem mais atividades, tendo mais programas, e não a que vive efetivamente o Evangelho de Cristo com simplicidade; são as que aparecem mais nas mídias, e não as que efetivamente impactam a sociedade, sendo “sal da terra e luz do mundo” - Mt 5:13-16 (MAGALHÃES, 2018).

É lógico que a Igreja quer evangelizar o mundo e fazer discípulos. Essa é a sua missão. Isso implica em crescimento, em números, mas sem perdas para a qualidade. O crescimento da igreja precisa ser multidimensional e ao mesmo tempo “natural”, baseado em sua autopoiesis[3], ou seja, sua auto-organização promovida sob o poder do Espírito Santo. Nunca por meras estratégias, programações e estruturas humanas (SCHWARS, 2019).   

1.1.3 O Clientelismo da membresia

O mundo capitalista é o universo do clientelismo. Infelizmente, as relações em muitas instituições religiosas vêm seguindo o modelo mercadológico, sendo regidas por deveres e direitos ligados ao consumo. A membresia eclesiástica aos poucos se tornou um grupo de consumidores de produtos religiosos, ávidos para consumir e implacáveis em exigir seus direitos em relação aos produtos adquiridos e aos serviços usufruídos nas comunidades de fé. As próprias relações interpessoais se tornaram “descartáveis”, transformando o outro em objeto (BUBER, 1979) e assumindo a característica de “conexões”, e não propriamente de relações profundas e íntegras (BAUMAN, 2004) como deveriam ser, segundo o Evangelho.

A idéia de que somos fieis, irmãos, discípulos de Cristo, precisa ser regatada. O reducionismo das “ovelhas” a “clientes” é um mal extremamente nefasto, corrompendo relacionamentos que deveriam ser sadios e bem intencionados.   

1.1.4 A Estruturação em rede das instituições religiosas

Fala-se muito na atualidade de estruturação em rede e organização em pirâmide. São modelos adotados em muitas empresas com a finalidade de obter crescimento rápido e lucro imediato. Entretanto, nem sempre tais modelos de negócio são muito honestos e transparentes em seus objetivos, finalidades e prestação de contas. Provavelmente, todos devem conhecer e se lembrar de algumas empresas que, usando tais modelos, acabaram na mídia e justiça relacionadas a algum tipo de fraude ou corrupção.

Igrejas e pastores devem lidar com as ovelhas da maneira mais transparente possível, evidenciando objetivos explícitos e mesmo aqueles que não estão tão explícitos assim. O trato com as finanças deve ser realizado de forma honesta, havendo prestação de contas, para que seja evitada “a aparência do mal” (1 Ts 5:22).

1.1.5 A Secularização da linguagem eclesiástica

            A quinta característica é lingüística, ligada à comunicação. Percebe-se a cada dia a secularização da linguagem eclesiástica, o que pode ser evidência de uma mudança paradigmática e de mentalidade no meio evangélico. As mudanças linguísticas apontam para alterações mais profundas na maneira de pensar, na forma de se organizar e de estruturar a vida comunitária. Por exemplo, mudanças no linguajar como as de “ministro” para “gestor”, “missão” para “planejamento estratégico”, “pessoa” para “potencial consumidor”, “igrejas” para “mercado religioso”, trazem no bojo inúmeras mudanças teológicas, antropológicas, sociológicas, etc.

            Hoje, com a influência tanto de um viés mercadológico, quanto do político-ideológico nas comunidades de fé, coisas estranhas são ditas e praticadas, como se implicações não trouxessem para o Evangelho de Cristo. Um bom exemplo é uso da expressão “inclusão”. Muitos pastores estão mais preocupados com a “inclusão de excluídos” na vida comunitária, do que com a “conversão de pecadores” e sua inserção no Reino de Deus. As duas questões são diversas, mas em muitos casos são abordadas como se fossem idênticas. É necessário ter muito cuidado nessa hora. 

1.1.6 O Funcionalismo e o pragmatismo

Por fim, o funcionalismo e pragmatismo são temas recorrentes no mundo hodierno, quando os tempos são marcados pela ênfase na busca de finalidades (propósitos) e não no estabelecimento de princípios e axiomas para a vida. Para a filosofia funcionalista “os fins justificam os meios”, possibilidade axiomática que representa grande dificuldade para a ética cristã. Num mundo, tanto sob influência mercadológica capitalista, quanto sob influência ideológica socialista, a ética tornou-se situacional e atomista, dependendo muitas vezes das finalidades. No capitalismo, o fim é o lucro, e o mesmo deve ser alcançado usando-se de todos os meios possíveis (pessoas, igrejas, Deus, etc.), independente de serem eticamente incoerentes. O mesmo se observa no socialismo, cujo fim é a revolução e a utopia igualitarista: tudo deve ser usado para que tal estado seja alcançado (pessoas, igrejas, Deus, etc.).

A igreja cristã deve desenvolver uma visão crítica quanto a tais filosofias/ideologias, não permitindo que se entranhem à mensagem do Evangelho, distinguindo-as de maneira clara, evitando-se os desvios de finalidade (KOYZIS, 2014).   

1.2 Consequências da ingerência mercadológica sobre a religião

A influência do mercado sobre a religião produz inúmeras consequências. As marcas são evidentes e os resultados também.

1.2.1 O Mercado como o “Todo-Poderoso”

A constatação da ingerência do Mercado sobre a cultura contemporânea, a “cultura-mundo” (LIPOVETSKY & SERROY, 2011) é evidência de que ele se tornou “todo-poderoso”. Noam Chomsky (CHOMSKY, 1999) já havia percebido isso no final do século passado, ao reconhecer o poder do Mercado influenciando a economia, a política, a cultura, a moda, a ética, etc. Lypovetsky e Serroy (2011) também perceberam essa realidade mais recentemente, ao afirmarem:

A Igreja, o socialismo, o Estado republicano, a nação, a escola, as culturas de classe, mais nada disso constitui contrapesos verdadeiros ao reinado absoluto do mercado. Esses sistemas perduram, mas são cada vez mais redefinidos, reestruturados, invadidos pelas lógicas de concorrência, competição e desempenho que se impõem como a matriz, a pedra angular da organização de nosso universo social e cultural. O hipercapitalismo revela a nova onipresença e onipotência do Homo economicus, à extensão do modelo às esferas antigamente fora do domínio mercantil. (LIPOVETSKY E SERROY, 2011, p.38)

O Mercado está, portanto, se infiltrando na atual realidade e em todas as esferas, gerando ajustes e adaptações nas diversas instituições e áreas, ditando as regras, os valores, os objetivos e alimentando a ideia de que quem quer sobreviver na presente era precisa se “atualizar”, ou seja, ceder às prerrogativas e interesses mercadológicos. A religião, enquanto elemento cultural, não está fora do alcance dos poderes do Mercado. É possível constatar isso nos diversos modelos de crescimento de igreja, em várias teologias contemporâneas e na reengenharia sofrida por diversas instituições.

1.2.2 A Influência institucional e individual do mercado

O pior de tudo é que a infiltração mercadológica não acontece apenas na mentalidade institucional, mas também na mentalidade individual. Lipovetsky e Serroy (2011) observam que:

o modelo de mercado foi realmente interiorizado, rompendo o antigo tabu do dinheiro. Daí em diante, tudo é pensado em termos de rentabilidade e de desempenho, de maximização dos dividendos, de cálculos individualistas dos custos e benefícios. (LIPOVETSKY E SERROY, 2011, 38).

Tal perspectiva impregnou-se na realidade secular, mas também na religiosa. Tudo passou a girar em torno do capital, do lucro e do poder que podem proporcionar. Infelizmente, muitos “venderam sua alma” ao Mercado em busca de suas benesses. Contaminaram-se com os “manjares do rei”, abandonaram doutrinas, crenças e valores. Deixaram a busca do ser em detrimento da busca do ter (FROMM, 1986).

1.2.3 A Corrupção da espiritualidade bíblica

No mundo hipermoderno o hipercapitalismo vem conseguindo corromper a espiritualidade bíblica, sadia, bem intencionada, desprovida de interesses outros. Influenciadas pelo Mercado, algumas igrejas se mercantilizaram, se tornando “pequenas empresas e grandes negócios”.  E isso não é por acaso, mas está acontecendo como uma tendência histórica, já que se manifesta na religião, na igreja, e também na política, na educação, nas artes, enfim, na cultura em geral.

No atual contexto, a cultura em suas diversas manifestações está a serviço do Mercado. Da mesma forma se apresentam muitas religiões, em geral, e igrejas, em particular, especialmente quando as pensamos em termos culturais. O que precisa ser questionado é: o Mercado se tornou o “deus” a quem a religião serve? Será que ser bem sucedida e próspera é a missão da Igreja? Isso não seria sucumbir à tentação da relevância perante o mundo? Jesus legou um grande exemplo de rejeição à tentação da relevância ao não sujeitar-se às tentações de Satanás no deserto, que oferecia a ele suprimentos, poder e glória (Mt 4:1-11).

Em outros momentos da história a igreja experimentou situações semelhantes. Na Idade Média, por exemplo, a Igreja sucumbiu diante de interesses políticos, ao se unir ao Império Romano. Todos conhecem os desdobramentos nefastos desta união promíscua. Quando será que a cristandade contemporânea acordará para os riscos de se submeter ao controle de poderes político-econômicos, como os do Mercado? Quando a igreja se libertará da tentação de buscar a glória neste mundo?

2 O Übermensch  como “modelo pastoral” na modernidade líquida

Há uma ausência significativa de paradigmas no mundo atual, com a perda dos modelos absolutos e definitivos por causa do pensamento relativista e do “pensamento frágil” (VATTIMO, 2008). As tradições foram abandonadas e as pessoas estão sempre em busca do novo. Por isso há um grande vazio quando se pensa em referenciais pessoais e institucionais. O que falar, quando se pensa, especificamente, no modelo para lideranças cristãs?

Os novos modelos que vão surgindo, quando muito, parecem ser construídos do nada, do vazio (nihil). Algumas poucas identidades, entretanto, são desenvolvidas tendo por base ideias do final do Século XIX. O paradigma do ser humano, por exemplo, sofreu nos últimos cinquenta anos uma poderosa influência do pensamento nietzschiano (BAUMAN, 2009).

Friedrich Nietzsche foi um filósofo alemão que viveu no final do Século XIX. De origem luterana, neto e filho de pastores, estudou Teologia, mas logo a abandonou em detrimento da Filologia e da Filosofia. Seguiu o pensamento dos filósofos Schopenhauer e Schelling, seus antecessores (HALEVY, 1968). Tornou-se um dos maiores críticos do Cristianismo de então, anunciando “a morte de Deus” em obras como “O Anticristo”, onde questionou veementemente a igreja e o anúncio do Deus cristão (NIETZSCHE, 2002).

Foi Nietzsche quem criou o conceito de übermensch, ao escrever o livro “Assim falou Zaratustra”, em 1883. A expressão é complexa, mas pode significar “super-homem”, “além-homem”, ou ainda “homem superior”, ou “homem mais elevado” (NIETZSCHE, 2011). A intenção era falar do homem ideal, em sua perspectiva, aquele que se auto-afirma, se impõe, é determinado, altivo e dotado de espírito livre.

Sobre Nietzsche e seu pensamento, Bauman escreveu:

A receita ideal de Friedrich Nietzsche para uma vida feliz, plenamente humana – um ideal que ganha popularidade em nossos tempos pós-modernos ou ‘líquido-modernos’, é a imagem do Super-Homem, o grande mestre da arte da autoafirmação, capaz de se evadir ou escapar de todos os grilhões que restringem a maioria dos mortais comuns. O Super-Homem é um verdadeiro aristocrata – ‘os poderosos, os bem situados, os altivos, que pensam que eles mesmos eram bons e que suas ações eram boas’. (BAUMAN, 2009, p. 28)

Para o filósofo alemão, o “super-homem” é um indivíduo cônscio de seus direitos e por isso os reivindica; é apoiado pelo aparato social, que o legitima; é possuidor da liberdade, que o torna capaz de não ceder aos controles externos - por isso se nega a sujeitar-se a uma ideologia; além disso, luta para resgatar toda a subjetividade, para que esta produza sua autonomia (TILLICH, 1986b).

Esse homem mais elevado se encaixa no modelo da aristocracia do Século XIX, pois, por se achar superior, a nobreza compreendia que nasceu para comandar os demais. É dessa forma que Nietzsche, de maneira veemente, diferencia o “super-homem” dos “rebanhos”: enquanto aquele é um ser livre e autônomo, estes se mostram completamente dependentes, assujeitados e limitados. (TILLICH, 1986b).

O modelo antropológico nietzschiano tem servido de base não apenas para definir o padrão do homem comum, mas especialmente para moldar um perfil de liderança para o início do Século XXI. Se isso não tem sido defendido abertamente, o é de forma indireta e subliminar através da mídia, já que características como auto-afirmação, independência, altivez, autodeterminação e personalismo fazem parte dos referenciais almejados para a liderança contemporânea.

Como a igreja “não existe para além do mundo”, mas está no mundo, sofre, portanto, sua influência. Por isso, o modelo nietzscheano também enveredou nos últimos tempos pelos arraiais evangélico-pentecostais, influenciando o estilo de vida das pessoas, bem como a postura da liderança cristã, gerando uma casta de intocáveis, de “homens superiores” ou “super-homens”.

Aliás, esse assunto foi abordado na década de 1990 em livros como “Super-Crentes” (ROMEIRO, 1998) e “Evangélicos em Crise” (ROMEIRO, 1995). O tema foi, aparentemente, esquecido nas décadas posteriores, mas não foi enterrado, desenvolvendo-se “nas sombras” eclesiásticas. Dessa forma, o übermensch vem se tornando, conscientemente ou não, um modelo de liderança no meio evangélico, e suas características já se fazem notar com certa clareza. A cada dia é possível perceber novos líderes personalistas, ambiciosos, prepotentes, egocêntricos, auto-afirmadores, “superiores” surgindo no meio do povo de Deus. Essa afirmação é feita com tristeza e decepção.

Muitos desses “super-homens” desenvolveram características negativas e marcantes que os distinguem do estilo tradicional de liderança cristã. Eis algumas:

2.1 O Isolacionismo protecionista

É real e crescente o estilo de liderança marcado pelo isolamento. Muitos são os pastores que se separam das outras pessoas na tentativa de se protegerem, de se resguardarem, como fazem artistas e determinadas autoridades. Muitos se ausentam até das ovelhas e dos colegas, dando espaço para a criação do “mito” em torno de sua figura. Eles vivem numa “torre de marfim”, num lugar acima de todos os lugares (TILLICH, 1986b), o que intensifica a ideia de sua superioridade e de sua singularidade.

Assim como uma família real precisa de seu castelo, esses líderes precisam de suas mansões para se esconder. Não atendem ao telefone, sendo mediados sempre por secretários que definem quem pode ou não falar com “sua santidade”. Para agendar uma entrevista ou reunião com eles só é possível com meses de antecedência, o que os torna praticamente inacessíveis - por isso, muitas de suas ovelhas acabam procurando o atendimento e o cuidado de outros pastores, por não encontrarem lugar na agenda de seus pastores em suas igrejas.

Tal postura de distanciamento é a mesma encontrada no estrelismo global, ou nas constelações hollywoodianas. Tais líderes esquecem-se, entretanto, de que Jesus, o maior exemplo cristão e de liderança cristã, andava no meio do povo, frequentava a casa das pessoas, inclusive dos pobres, visitava, ia onde o povo estava, ao invés de ficar sentado dentro de um gabinete, ou guardado em sua casa em um condomínio 5 estrelas.

Talvez fosse interessante que lessem a obra do teólogo norte-americano John Pipper (2009), intitulada: “Irmãos, não Somos Profissionais”, onde o autor faz um apelo aos pastores para que vivam e desenvolvam ministérios em simplicidade, naturalidade e radicalidade profética. Ele afirma que os pastores estão sendo massacrados pela profissionalização do ministério pastoral e que a mentalidade do profissional não é a mentalidade do profeta, nem a mentalidade do escravo de Cristo. Ainda diz que o profissionalismo não tem nada que ver com a essência e o cerne do ministério cristão, e que, quanto mais o líder for profissional, mais morte espiritual deixará em seu rastro ministerial (PIPPER, 2009). Sem dívida, um alerta aos übermensches pós-modernos!

2.2 A Infalibilidade defectível

Uma característica estranha ao Protestantismo e à Bíblia é a ideia de infalibilidade da liderança. Durante séculos esta foi uma característica defendida pela liderança da Igreja Romana, especialmente do Papa, mas ela vem sendo abandonada pelos últimos pontífices, especialmente por Francisco I. Na contramão da história, pastores, bispos, apóstolos, “paipóstolos”, patriarcas, “demiurgos” e “semideuses“ evangélicos vêm assumindo a postura da infalibilidade. Arrogantemente apresentam a falsa idéia de que não erram, jamais. Se não o fazem com palavras, claramente, o demonstram com atitudes, gestual e ritualisticamente. Como estão blindados, guardados a sete chaves pelos seus auxiliares, e por se resguardarem nas “torres de marfim”, as pessoas não podem conhecer mais profundamente seus líderes e ter uma idéia de quem verdadeiramente são no cotidiano.

Vários líderes estão se escondendo atrás de uma imagem apresentada no púlpito ou veiculada na mídia, milimetricamente construída e forjada pelo marketing eclesiástico. Querem ser vistos como super-homens, super-crentes, super-líderes, super-pastores, mas não passam de pessoas comuns como você, sujeitas a pecados, falhas, escolhas indevidas e fracassos. Como a sociedade pós-moderna ama os simulacros (BAUDRILLARD, 1981) mais do que a realidade, tais pessoas encontram êxito em sua escalada rumo ao “sucesso” ministerial.    

2.3 A Inquestionabilidade contestável

Devido à infalibilidade, se desenvolve também outra característica: a inquestionabilidade. Há líderes que não suportam ser questionados ou cobrados. Acham-se “sobre-humanos”, “perfeitos” e não aceitam críticas. Sua palavra e seus planos não podem ser colocados em xeque, nem mesmo diante da Bíblia. O interessante é que muitos deles constantemente mudam de opinião, de visão, trocam os planos, as estratégias e terminam por desdizer o que disseram anteriormente. A consequência dessa característica é que as pessoas que criticam tais líderes vão sendo banidas, execradas e defenestradas das comunidades de fé. Isso pode acontecer porque, simplesmente, alguém perguntou a base bíblica de um ensino, ou de um novo direcionamento institucional.

Em determinadas igrejas já não há espaço para questionamentos, para o livre pensamento, nem para se tirar dúvidas. O que o líder diz tem peso de “revelação” dada por Deus. E ai daquele que se levanta para por em dúvida “deus”! O espírito reformado do “livre sacerdócio do crente”, que ensina que já não há sacerdotes, de que cada crente tem livre acesso a Deus em Cristo Jesus (BATTENSON, 1986), vem se perdendo há muito.

2.4 O Visionarismo devaneador

Outra característica desse tipo de liderança é o visionarismo. É inadmissível pensar num líder sem visão, que não saiba para onde está indo e conduzindo o povo de Deus. Mas, é ingenuidade acreditar que Deus só fala aos pastores, ou através dos pastores. Na Bíblia Deus falou até através de um jumento (Nm 22 e 23). Acreditar que Deus só fala com um tipo de pessoa é jogar na lata do lixo importantes passagens bíblicas, como 2 Co 3:6 e 1 Pe 4:10,11, que afirmam que Deus concede dons e ministérios diferentes para que seus ministros (todos os crentes) por exercer seus ministérios eficientemente.

Mas há líderes que, infelizmente, agem como se só eles conhecessem Deus e a Bíblia, como se apenas eles pudessem falar com Deus e ouvir a sua voz. Pensar desse modo é retornar ao sacerdotalismo vétero-testamentário, pré-reformado e anti-Bíblico. Um grande retrocesso.

2.5 A Filocracia luciferiana

Uma das principais tendências da liderança contemporânea é a filocracia (φιλοκρατία), onde φιλiα (filia) quer dizer amor, amizade, e κρατos (kratos) refere-se ao poder, apresentando tal expressão a idéia de “amor ao poder” (BAILLY, 1950).

Quando alguém desenvolve esse sentimento e ele passa a ter lugar especial em suas motivações, o ministério exercido se torna um “meio” para alcançar outro “fim”, que é o poder! Muitas pessoas, entre elas alguns ministros, são ávidas por poder. Isso é inquestionável. Lidar com o poder não é tarefa fácil, pois o mesmo é atraente, pode trazer inúmeros privilégios pessoais, gerando certo sentimento de superioridade. Se a pessoa não está atenta a esses fatores e começa a sentir prazer com os benefícios, pode cair numa grande cilada. Em pouco tempo poderá estar manifestando atitudes arbitrárias, autoritárias e manipuladoras.

Um famoso teólogo alemão do século passado, falando sobre a relação entre poder, amor e justiça, afirma que é preciso buscar o poder de amar e não amar o poder (TILLICH, 2004). O amor exasperado ao poder e por suas benesses é destruidor e tem sido o motivo de queda e reprovação de muitos líderes cristãos nesses tempos hipermodernos.

2.6 A Ganância nada generosa

O amor ao poder anda pari passu com a ganância. A cobiça financeira pode ser uma das grandes tentações ministeriais. É bíblico que o trabalhador seja digno de seu salário e que o obreiro deva receber remuneração condigna para fazer a obra de Deus sem gemer (I Tm 5:8). O que é estranho, infelizmente, é a tendência de existirem pastores ricos, que acumularam riquezas através do ministério, ou de atividades ligadas ao ministério, muitos dos quais usam o poder econômico para se impor e se auto-afirmarem sobre os demais líderes e irmãos cristãos.

Alguns desses líderes tentam justificar o estilo de vida nababesco que possuem através da Bíblia, respaldados pela Teologia da Prosperidade! Batem no peito e afirmam serem “filhos do rei”! O apóstolo Paulo, entretanto, orientando o pastor Timóteo, afirma que “... o amor ao dinheiro é raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram a si mesmas com muitos sofrimentos” (1 Tm 6:10). Certamente, tal texto foi apagado da Bíblia de famosos pregadores!

Nos últimos anos a mídia tem feito questão de propagar certa competição entre “grandes” pastores evangélicos (CARDOSO, 2013; GOIS, 2020), ao fazer comentários sobre seus relógios caros, carros caríssimos, mansões e “jatinhos” milionários. Parece haver uma troca “em cascata” por novos bens sempre que um dos “notáveis” aparece com algo novo. “Vaidade de vaidades, tudo é vaidade”, como dizia o sábio Salomão (Ec 12:8)!

2.7 A Prepotência autocrática

Poder e dinheiro podem produzir prepotência e sentimento de superioridade no coração de quem os possui. Isso acontece quando se valoriza o “ter” em detrimento do “ser”. Como na sociedade Ocidental, que é capitalista, essa é uma de suas ênfases, tal comportamento é reproduzido em larga escala, afetando inclusive algumas lideranças religiosas.

Muitos se esqueceram das diversas exortações bíblicas quanto ao cuidado que é preciso ter com as riquezas, como dito acima! Por isso focam no acúmulo de bens como se eles pudessem transcender a realidade material e os usam como elemento de empoderamento e de manifestação de superioridade sobre os demais. Diante dessa conjuntura, os notáveis sentem que são melhores, mais crentes, mais santos, melhores pastores... Alguns se sentem quase divinos.

Os obreiros que realizam seu trabalho focados no vil metal, preocupados com os aumentos de salário, com as reposições e com o recebimento de compensações ligadas ao crescimento numérico e financeiro das igrejas estão entre esses. Infelizmente o mercenarismo vai ganhando espaço e tem feito escola!

2.8 O Personalismo narcisista

Por fim, mas sem esgotar o assunto, a presença do personalismo é notória no métier pastoral. Os nomes de pastores e visões ministeriais viraram verdadeiras grifes na atualidade, possuindo mais visibilidade do que o Evangelho, Cristo ou a Igreja juntos. A busca de relevância, notoriedade e o desejo de serem reconhecidos pelos outros, num mundo vazio e sem significação, tem feito com que lideranças queiram ver seus nomes em letras garrafais iluminadas, brilhantes e em destaque. Assim, o Evangelho vai perdendo sua essência e se identificando com a igreja “A” ou “B”, ou com o pastor “C” ou “D”, esvaziando-se da identidade verdadeiramente cristã.

No já citado livro A Arte da Vida, Zygmunt Bauman (2009) afirma existirem dois modelos humanos básicos e duas formas de viver a vida: para si mesmo e para o outro. O sociólogo polonês apresenta Jesus Cristo como referencial de quem vive para os outros e apresenta o pensamento nietzschiano, em especial o übermensche, como modelo de quem vive para si, centrado no individual, vivendo egoisticamente. Conclui sua obra afirmando que não há verdadeira felicidade em viver a vida egoisticamente (BAUMAN, 2009).

Da mesma forma, pode-se dizer que, quando se pensa no exercício ministerial não é possível imaginar o übermensch como paradigma adequado para aquele que dedica a vida a Deus e ao próximo. O ministério pressupõe, no mínimo, que o seu candidato esteja disposto a negar-se a si mesmo (Mt 16:24), ao invés de se auto-afirmar. Como Cristo disse, “se o grão de trigo, caindo na terra não morrer, fica só, mas se morrer produz muito fruto” (Jo 12:24).

Nesse sentido, reconhecemos que um ministério sadio, relevante e realmente comprometido com o Evangelho, não pode ser desenvolvido tendo o übermensch como modelo. Como pastorear e conduzir um rebanho afastando-se dele, enclausurando-se, escondendo-se? A Bíblia diz que a luz deve estar no velador, de onde ilumina a todos (Mt 5:15). Como ser exemplo para os outros, se colocando num patamar superior, inalcançável, perfeito? O próprio apóstolo Paulo julga não ter alcançado a perfeição, mas afirma seguir para o alvo (Fp 3:13,14). Para ser exemplo é necessário muitas vezes “descer”, mais do que “subir”: Jesus foi exemplo disso, como atesta Paulo aos filipenses (Fp 2:5-11). Quem, dentre os homens, foi ou é irrepreensível, além de Cristo? A Bíblia afirma que todos pecaram (Rm 3:23). Como guiar as pessoas e não manter um diálogo aberto com elas, dispondo-se a responder suas questões e dúvidas? Todos devem estar prontos em apresentar a razão de sua esperança (I Pe 3:15). Por que voltar ao sacerdotalismo, se o véu do templo já foi rasgado? Hoje existe apenas um sumo-sacerdote: Jesus Cristo (Mt 27:21; Hb 5:6). Como as pessoas se sentirão amadas, se o foco dos líderes é o poder e o dinheiro, e não o serviço ao próximo e a Deus? Jesus veio servir e deve-se seguir seu exemplo (Cl 3:4; Gl 5:13). Como cuidar de pessoas se auto-afirmando e sendo prepotente, valorizando mais o ter do que o ser? A orientação bíblica é de não se considerar superior a ninguém e não fazer acepção de pessoas (Mt:23:12; Tg 2:1-9). Como anunciar o Evangelho se colocando acima do Evangelho? A Bíblia ensina a humildade para todos, inclusive para os líderes: “que Ele cresça e eu diminua” (Jo 3:13).

A Bíblia continua sendo regra de fé e prática. Nela há orientações ministeriais seguras. Contextualizar, adaptar e seguir modelos ministeriais fundamentados em “filosofias”, ideologias e modismos contemporâneos é um risco perigoso. Formar uma nova geração de ministros-empresários, “bem sucedidos”, senhores de si, prepotentes e gananciosos é fomentar a derrocada da igreja cristã e seu desvio de finalidade. Que ministros e futuros pastores não sejam enganados. Que a ganância e o desejo de ser relevante não destruam os ministérios!

3 O Mal-estar pastoral na hipermodernidade

Se espertalhões, empresários e profissionais da religião têm usado indevidamente a religião e se aproveitado da boa fé da população, como disse Lutero nas 95 Teses, se ocupando dos bens dos homens, ao invés de cuidar dos homens de bem (BETTENSON, 2020), por outro lado, nem tudo são flores para quem milita na área religiosa.

 O novo momento histórico tem produzido radicalizações, instabilidade, desnorteamento, perda de referenciais, e com eles, vem estabelecendo certo mal-estar pessoal e social. Independentemente do conceito utilizado sobre o mundo contemporâneo, é inegável a existência de alterações na Modernidade, promovendo uma estrutura globalizada e uma desorientação generalizada que impacta a todos. Acredita-se que essa desorientação seja gerada pela depreciação dos valores superiores, pela ruína do fundamento metafísico do saber, da lei e do poder, e pela desintegração dos pontos de referência mais básicos da vida humana (LIPOVETSKY E SERROY, 2011). Os autores franceses afirmam que...

Num mundo carente de orientação e influenciado pelo hiperindividualismo a sociedade lança sobre os indivíduos as glórias do sucesso ou a culpa pelos fracassos, algo anteriormente direcionado a um grupo ou classe social. O risco do fracasso, a necessidade de capacitação constante, a concorrência e o medo da avaliação permanente, produzem angústia, baixa estima e a autodesvalorização do trabalhador contemporâneo, especialmente daquele que experimenta alguma situação de fracasso e humilhação. Por isso, pode-se dizer que a segurança (estabilidade) no trabalho se tornou “artigo de luxo”, algo praticamente inacessível. Essa instabilidade profissional produzida no mundo hipermoderno desestabiliza as personalidades e as identidades, desequilibra a vida mental e moral dos indivíduos tornados inseguros e que já não dispõem do apoio dos antigos quadros da vida coletiva. No sistema econômico de curto prazo, em que os trabalhadores são ‘descartáveis’, um grande número de pessoas, inclusive da classe média, vive uma experiência cruel de fracasso pessoal no isolamento e na vergonha de si mesmo, que dão origem à amargura, ao desencorajamento, à depressão. (LIPOVETSKY E SERROY, 2011, 37).

Dessa forma, a instabilidade profissional vem trazendo transtornos, pois pode produzir profundo mal-estar patológico, que se manifesta através de problemas como síndrome do pânico, depressão, ansiedade (CURY, 2014), e, mais recentemente, a Síndrome de Burnout (SELIGMANN-SILVA, 2013). Profissionais de alta performance, de grande responsabilidade, que possuem metas cada vez maiores e que lidam com pessoas e seus problemas são os alvos principais desse novo quadro que se estabelece. Nesse contexto estão inseridos diversos profissionais, entre eles, os ministros religiosos em geral, e os pastores, em particular.

3.1 Hipermodernidade, profissionalização e saúde pastoral

Ao contrário do que muitos pensam, a vida ministerial não é só glamour! Na atualidade, os pastores são colocados diante de situações cada vez mais complexas, debaixo de responsabilidades cada dia maiores, de exigências às vezes sobre-humanas. Muitos ministros têm que vencer metas, se atualizar constantemente, inovar continuamente, criar sempre, administrar com competência, tudo sem perder o controle da situação. Isso, além do que já era exigido anteriormente: ser homem espiritual, íntegro, moderado, sábio, que tem família ajustada e vida secular ilibada. Precisa “ser”, “fazer” e “ter” todas essas características, além de lidar na grande maioria das vezes com pessoas difíceis, nem sempre ajustadas, íntegras, ou leais, o que torna o ambiente ministerial muitas vezes inóspito (PEREIRA, 2013).

3.1.1 O Mal-estar dos pastores no ministério

Por isso, muitos são os ministros que experimentam um profundo mal-estar. Vários se encontram machucados e feridos. Estão enfrentando os desafios, as lutas e as crises ministeriais à base de oração, leitura bíblica, mas também de medicamentos “controlados” e de terapias. Alguns encurtaram a carreira ministerial abruptamente, com enfermidades graves que os deixaram incapacitados; outros o fizeram através da morte prematura. Decepção, sofrimento, amargura e deserção não são palavras incomuns aos ministros contemporâneos.

3.1.2 O Ministério e o isolamento

Muitos ministros vão enfrentando suas crises, na maioria das vezes, no mais completo isolamento, na mais profunda solitude: uma solidão esquisita que acontece em meio a dezenas ou centenas de pessoas ao seu redor. Um isolamento que é gerado porque os outros pensam que pastor é um super-homem e que seria fraqueza adoecer ou ter um esgotamento; ou então, porque o pastor mesmo acha isso, culpando-se pela “falta de fé”, ou pior, acreditando que Deus o teria abandonado à própria sorte, sendo um mau “chefe”, um Senhor displicente.

Alguns líderes se isolam, também, por não confiarem nos outros. Há quem possua dificuldades pessoais em se relacionar e confiar, talvez por causa de alguma experiência frustrante no passado. Outros não confiam porque convivem com pessoas difíceis, desleais, competitivas, desagregadoras e realmente indignas de confiança. Tais pessoas podem ser os membros das comunidades de fé, ou, infelizmente, os colegas de ministério, que nem sempre estão dispostos a desenvolver relacionamentos sadios e íntegros.  Não são raros os casos de perseguição, difamação e destruição da honra de ministros pelos próprios colegas. Por isso, pastores e demais ministros podem enfrentar muitas lutas, terem muitos dissabores e ficarem, como resultado, esgotados e enfermos.

Necessário é se lembrar, entretanto, que este não é um problema somente dos pastores, pois os ministros fazem parte de uma conjuntura muito maior. Tal mal-estar não é pessoal ou apenas ligado a uma profissão. Ele é estrutural e global, atingindo ministros de várias instituições, bem como profissionais de várias áreas diferentes. O mesmo esgotamento experimentado por pastores atinge professores, bancários, policiais, etc. (JBEILI, s/d)

3.1.3 O Ministério e a instabilidade “profissional”                               

Na verdade, o mundo mudou, as cobranças aumentaram e a instabilidade profissional se agigantou! A realidade eclesiástica já não é a mesma. Para muitos, a “graça” foi trocada por “direitos”, a convivência fraterna por clientelismo, o serviço ministerial por performance “artística” ou empresarial. Muitos ministros estão adoecendo por causa da sobrecarga, devido à responsabilidade individual de ter que prever o imprevisível, controlar o incontrolável e agradar aqueles que nunca se satisfazem. Não que essa realidade seja positiva, mas infelizmente é o que vem acontecendo, porque a cultura hodierna impõe tal conjuntura: um mundo marcado pela mais radical instabilidade.

3.2 O Enfrentamento da situação

Para enfrentar essa realidade desalentadora, é importante que os “ministros hipermodernos” desenvolvam pelo menos três atitudes para reagir a essa situação. São elas a capacitação continuada, a resiliência, e a confiança incondicional em Deus.

3.2.1 A Necessidade de capacitação continuada

O mundo muda o tempo todo. Especialmente a realidade de mundo atual está em constante processo de mutação. O desenvolvimento da educação, acompanhado pela comunicação de massa tem gerado rápidas transformações na sociedade. Isso aponta para o fato de que a cobrança pela atualização é continua, mas também indica que a possibilidade de acompanhamento das alterações paradigmáticas é possível.

Por isso se fala tanto de educação continuada no mundo hodierno. O processo educacional deve ser contínuo para que as pessoas estejam sempre atualizadas e os profissionais capacitados. No caso do pastor, ele deve ser aberto às continuas capacitações e atualizações ministeriais para que esteja constantemente equipado a fim de atender os novos desafios apresentados pela igreja e pelo mundo. Não dá para acompanhar as mudanças com uma formação de 10, 20, 30 anos atrás. É preciso fazer novos cursos e pós-graduações. Estudar sempre é um desafio atual, mesmo que não seja através de cursos formais, mas pelo uso contínuo da leitura, da assistência a palestras, mini-cursos, etc. Aliás, a educação teológica e ministerial no Século XXI precisa capacitar para a auto-aprendizagem e para a pesquisa (MAGALHÃES, 2016).

3.2.2 A Importância da resiliência

Resiliência é a capacidade de suportar pressões e se adaptar às novas exigências que a realidade impõe se reinventado sempre. É uma idéia que veio das “ciências duras” e acabou encontrando espaço nas Ciências Humanas. Inúmeras nuances do conceito de resiliência podem ser observadas na literatura contemporânea:

Ralha-Simões (2001), a define como uma especificidade estrutural do desenvolvimento psicológico, traduzindo a resiliência como a capacidade que determinadas pessoas, grupos ou instituições possuem de evitar, enfrentar ou mesmo ultrapassar os efeitos desestruturantes esperados diante de situações dadas à exposição a certas experiências desconstrutivas. Nessa concepção, ela é vista como elemento estruturante diante das possibilidades desagregadoras e desustruturantes de fases da vida e em determinados contextos.

Placco (2001) conceitua resiliência como a capacidade que a pessoa tem de responder de forma consistente aos desafios e dificuldades existenciais, de reagir com flexibilidade e capacidade de recuperação diante desses desafios e circunstâncias desfavoráveis, apresentando uma atitude otimista, positiva, perseverante e mantendo um equilíbrio dinâmico no decorrer e após à adversidade experimentada. Aqui resiliência está ligada à postura otimista, positiva, perseverante e dinâmica de lidar com os problemas.

Para Silva (2003) a resiliência refere-se à capacidade das pessoas de enfrentar e responder de forma positiva às experiências que trazem alto potencial de risco para a saúde e para o desenvolvimento do indivíduo. Nessa perspectiva, ela é vista como resposta aos desafios e riscos que a vida impõe.

Para Junqueira e Deslandes (2003) a resiliência é observada como a capacidade individual de, em determinadas situações e de acordo com as circunstâncias, lidar com as crises não se deixando sucumbir a ela, alertando para a capacidade de relativizar, em função do indivíduo e do contexto, o aspecto de "superação" de eventos muito estressores. Aqui ela já é percebida como reação humana às adversidades e à auto-superação do estresse destrutivo.

Portanto, a partir dos conceitos vistos, e vivendo num mundo tão instável e desafiador, o pastor necessita lidar com frustrações e traumas decorrentes das lutas da vida e de situações ligados especificamente ao exercício profissional. Ele precisa suportar pressões, lidar com frustrações, redirecionar planos, repensar estratégias, readaptando-se às novas exigências, sem perder-se no processo. Quem não desenvolve essa característica, a resiliência, dificilmente consegue desenvolver um ministério que deixa frutos que permanecem (SELIGMANN-SILVA, 2013).

Entretanto, ser resiliente não significa abrir mão de ideias e valores considerados fundamentais para si mesmo, nem se deixar sucumbir pelo “sistema”, fazendo malabarismos para permanecer no cargo e fazer parte do “jogo”. É preciso ter consciências, valores e coerência.

3.2.3 O Fundamento da confiança incondicional em Deus

Quanto à fé, a confiança incondicional em Deus (TILLICH, 1985), ela é fundamental para se enfrentar a instabilidade e as incertezas da vida e do ministério. Confiar somente em si mesmo, em seu potencial, não é suficiente para obter paz e segurança, a fim de vencer a ansiedade e os temores que habitam o coração do homem. Confiar nas instituições e nas pessoas muito menos. Somente a certeza de que Deus é quem guia, sustenta e ampara os ministros, porque somente Ele é o Senhor, pode garantir estabilidade emocional e um ministério abençoado, estável e frutífero.

Infelizmente, muitos envolvidos nas circunstâncias ministeriais têm colocado sua confiança incondicional nas instituições, como se elas pudessem garantir estabilidade. Outros desenvolvem uma postura política, criando grupos e estabelecendo sua confiança na influência de gente empoderada que lhe dê apoio, sustentação e amparo na adversidade. Outros ainda confiam em estratégias e modelos que vão sendo alterados constantemente, com a finalidade de garantir estabilidade, através de programas diversos, eventos diferentes e entretenimento continuamente inovador. Mas, nada disso traz segurança ministerial. Só Deus pode efetivamente trazer estabilidade ao ministro no exercício do ministério, seja na hora de iniciá-lo, seja durante seu desenvolvimento ou mesmo no momento de encerrá-lo.

Conhecedores de suas limitações pessoais, cientes de que os tempos são maus, mas também dotados de confiança incondicional em Deus, do desejo de continua capacitação e da capacidade de resiliência, que os pastores possam diariamente se fortalecer e se reinventar para desempenhar ministérios abençoados, íntegros, eficazes e agradáveis a Deus.

Considerações finais

Os tempos são complexos e difíceis. Igrejas, líderes em geral e pastores devem ser treinados a lidar com a influência mercadológica da hipermodernidade sobre a esfera religiosa. Não podem rejeitá-la completamente, muito menos sucumbir diante dos seus ditames. Terão que exercer uma relação crítica constante, “examinado tudo e retendo o que é bom” (I Ts 5:21).

O mesmo deve ser feito com as ideologias mais comuns que vigoram na atualidade, seja o liberal-capitalismo, ou o comuno-socialismo, vendo-as como filosofias humanas, sujeitas ao contexto histórico, e, portanto, carecendo de análise crítica constante e consistente, aproveitando o que é coerente e desfazendo-se do “lixo”.

É preciso repensar a visão de liderança personalista, inquestionável, prepotente e gananciosa comum nesse início de século. Jesus precisa sempre ser visto como o paradigma para a liderança cristã. O líder é antes de tudo um “servidor” e não um “chefe”. Como disse Jesus: “Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo” (Mt 20:26,27).

Quanto ao mal-estar ministerial, muito líderes precisam de socorro, pois estão em sofrimento, sozinhos e adoecidos. Precisam ser capacitados para enfrentar essa era de instabilidade. Necessitam de apoio para desenvolver a resiliência necessária para não se perderem na caminhada ministerial. É primordial terem fé incondicional em Deus, desenvolvendo um sentimento de dependência contínua do Senhor, a fim de cumprirem cabalmente o seu chamado e poderem dizer como o Apóstolo Paulo ao fim da vida: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé” (2 Tm 4:7).

Referências Bibliográficas

BAILLY, Egger A.. Dictionnaire Grec Français. Paris: Librarie Hachette, 1950. Disponível em: C:/Users/Nome/Downloads/BAILLY%20–%20Dictionnaire%20%20Grec%20Français.pdf. Acesso em: 10 de janeiro de 2021.

BETTENSON, Henry. Documentos da igreja cristã. Trad. Helmuth A. Simon. São Paulo: ASTE, 2020.

BAUDRILLARD, Jean. Simulacres et simulation. Paris: Éditions Galilée, 1981.

BARRO, Jorge Henrique (Org.). Uma Igreja sem propósitos: os pecados da igreja que resistiram ao tempo. 1ª ed., São Paulo: Mundo Cristão, 2004.

BAUMAN, Zygmunt. O Mal-estar da pós-modernidade. Trad. Mauro Gama e Cláudia Martinelli Gama. Rio de Janeiro: Zahar. 1998.

BAUMAN, Zygmunt. Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar. 2004.

BAUMAN, Zygmunt. Vida para o consumo. Trad. de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. 

BAUMAN, Zygmunt. A Arte da vida. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar. 2009.

BUBER, Martin. Eu e Tu. 2ª ed., Trad. Newton Aquiles von Zuben. São Paulo: Cortez & Moraes, 1979.

CAMPOS, Leonildo S.. Teatro, templo e mercado: uma análise da organização, rituais, marketing e eficácia comunicativa de um empreendimento neo-pentecostal - Igreja Universal do Reino de Deus. Doutorado em Ciências da Religião, Universidade Metodista de São Paulo: São Paulo, 1996.

CARDOSO, Rodrigo. “Já recebi R$ 2 milhões de um fiel.” In: Isto É, Edição de 30 de janeiro de 2013. Disponível em: https://istoe.com.br/270456_JA+RECEBI+R+2+MILHOES+DE+UM+FIEL+/. Acesso em: 20 de jan. de 2021.

CHOMSKY, Noam. Segredos, mentiras e democracia. Trad. Alberigo Loutron. Brasília: UNB. 1999.

COX, Harvey. A Festa dos foliões: um ensaio teológico sobre festividade e fantasia. Petrópolis: Vozes, 1974.

CURY, Augusto. Ansiedade: como enfrentar o mal do nosso século. São Paulo: Saraiva. 2014.

DEBORD, Guy. A Sociedade do espetáculo. eBooksBrasil.com., 2003. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/debord/1967/11/sociedade.pdf. Acesso em: 16 de junho de 2015.

FROMM, Erich. Ter ou ser? 4ª ed., São Paulo: LTC, 1986.

GOIS, Ancelmo. Templo é dinheiro: pastor compra novo avião de R$ 50,3 milhões! In: O Globo, Edição de 15 de dezembro de 2020. Disponível em:  https://blogs.oglobo.globo.com/ancelmo/post/templo-e-dinheiro-pastor-compra-novo-aviao-de-r-593-milhoes.ht. Acesso em: 20 de jan. de 2021.

HALÉVY, Daniel. Nietzsche. Porto/Portugal: Ed. Inova Ltda, 1968.

JBEILI, Chafic. Burnout em professores: identificação, tratamento e prevenção. Rio de Janeiro: SinproRio. s/d.

JUNQUEIRA, Maria de F. P. da S.; DESLANDES, Suely F.. Resiliência e maus-tratos à criança. (jan./fev. 2003). Cadernos de Saúde Pública, 19 (1). Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/csp/v19n1/14923.pdf. Acesso em: 23 de fev. 2009

KOYZIS, David T.. Visões e ilusões políticas: uma análise e crítica cristã das ideologias contemporâneas. Trad. Lucas Freire. São Paulo: Vida Nova, 2014.

LIPOVETSKY, Gilles; SERROY, Jean. Cultura-mundo: resposta a uma sociedade desorientada. Trad. Maria Lúcia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

LLOSA, Mário V.. A Civilização do espetáculo: uma radiografia do nosso tempo e da nossa cultura. 1ª ed., Trad. Ivone Benedetti. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

LYOTARD, Jean-François. O Pós-moderno. Trad. Ricardo Corrêa Barbosa. Rio de Janeiro: José Olympio. 1986.

MAGALHÃES, Diogo S.. Currículo acadêmico e performance ministerial: a formação pastoral batista brasileira para o contexto hipermoderno. Práxis Evangélica – Revista da Faculdade Teológica Sul Americana, v. 1, nº 27, 2016.

MAGALHÃES, Diogo S.. Uma Igreja artesanal: buscando com simplicidade o que realmente importa. Práxis Evangélica – Revista da Faculdade Teológica Sul Americana, v. 1, nº 30, 2018.

MATURANA, H.; VARELA, F.. Autopoiesis and cognition. The realization of living. Dordrecht, Holanda: D. Reidel Publishing Co, 1979.

NIETZSCHE, Frederich. O Anticristo. Trad. André Díspore Cancian. Ciberfil Literatura Digital, 2002. Disponível em: https://www.livrosgratis.com.br/ler-livro-online-44726/o-anticristo. Acesso em: 13 de fevereiro de 2021.   

NIETSCHE, Frederich. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém.  Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Cia das Letras, 2011.

PLACCO, Vera M. N. de S.. Resiliência e desenvolvimento pessoal. (p. 7-12). Tavares, J. (org). Resiliência e Educação. São Paulo: Cortez, 2001.

PEREIRA, Wiliam C. C.. O Sofrimento psíquico dos presbíteros: dor institucional. 7º ed., Petrópolis: Vozes. 2013.

PONDÉ, Luís. F.. A Era do Ressentimento. Uma agenda para o contemporâneo. São Paulo: LeYa, 2014.

RALHA-SIMÕES, Helena. Resiliência e desenvolvimento pessoal. (p. 95-113). Tavares, J. (org). Resiliência e Educação. São Paulo: Cortez, 2001.

ROMEIRO, Paulo. Evangélicos em Crise: decadência doutrinária na igreja brasileira São Paulo: Mundo Cristão. 1995.

ROMEIRO, Paulo. Super-Crentes. 7ª ed., São Paulo: Mundo Cristão. 1998.

SELIGMANN-SILVA, Edith. Trabalho e desgaste mental: o direito de ser dono de si mesmo. São Paulo: Cortez. 2013.

SCHWARS, Christian A.. O Desenvolvimento natural da igreja. 3ª ed., Curitiba: Ed. Esperança, 2019.

SILVA, Maria R. S.. A construção de uma trajetória resiliente durante as primeiras etapas do desenvolvimento da criança: o papel da sensibilidade materna e do suporte social. Tese de doutorado. Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2003.

TILLICH, Paul. Dinâmica da fé. Trad. Walter O. Schlupp. São Leopoldo: Sinodal. 1985.

TILLICH, Paul. História do Pensamento Cristão. Trad. Jaci C. Maraschin. São Paulo: ASTE. 1986a.

TILLICH, Paul. Perspectivas da Teologia Protestante nos Séculos XIX e XX. Trad. Jaci C. Maraschin. São Paulo: ASTE. 1986b.

TILLICH, Paul. Amor, Poder e Justiça: análises ontológicas e aplicações éticas. Trad. Sérgio Paulo de Oliveira. São Paulo: Novo Século. 2004.

VATTIMO, Gianni. Intervista de Gianni Vattimo. Concedida na Universidade do Porto (Foz) a 08 de março de 2008, conduzida por Jorge Cunha e Conceição Soares. Disponível em: https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/24929/1/%5BEntrevista%5D%20Gianni%20Vattimo.PDF. Acesso em 1º de


[1] Membro da Fraternidad Teologica Latinoamericana. Graduado em Teologia pelo STBNB/FTSA, Pós-Graduado em Docência do Ensino Superior pelo ITOP, Pós-Graduado em Telemática pelo IFTO, Mestre em Ciências do Ambiente, pelo PPGCIAMB-UFT, Palmas - TO. Professor de Teologia no STBT, SETA e STBG, em Palmas – TO.

[2] Hopi Hari é um parque muito conhecido na Cidade de São Paulo, sendo ao mesmo tempo, local de entretenimento e empresa com fins lucrativos.

[3] Autopoiesis é um princípio ligado à Teoria dos Sistemas, para o qual todo sistema possui a capacidade de se auto-organizar, de se auto-criar, se adaptando às necessidades e mantendo-se vivo e em crescimento (MATURANA; VARELLA, 1979 ).

Nenhum comentário:

Postar um comentário